Jihad: duas interpretações contemporâneas de um conceito polissêmico

Abstract

Quais são os papéis e os significados do conceito de jihad para os movimentos islamistas contemporâneos? O objetivo deste artigo é apresentar duas releituras contemporâneas do conceito de jihad – entendido este como luta armada e militância pública – através da análise das obras de dois pensadores islamistas contemporâneos, Sayid Imam e Yusuf al-Uyayri, em cujos escritos se torna evidente a concepção do jihad como luta moral e ascese. A especificidade das leituras do jihad em contextos contemporâneos é que ele se individualiza, tornando-se, ele próprio, um “modo de vida” e uma escolha no plano individual, sendo reformulado e vivido por pensadores e militantes islâmicos alheios tanto às instituições tradicionais de transmissão do conhecimento religioso islâmico quanto ao Estado. Os percursos diversos de vida e as obras de Sayid Imam e Yusuf al-Uyayri podem ser, assim, lidas como exemplo de um enfoque distinto do tema de jihad entre os militantes islâmicos.

11 de setembro: das Reformas aos atentados

“…Entre esses adeptos e seguidores estava Ibn Taymiyya, nascido em 1263, na cidade de Ḥarrān, entre a Síria e a Turquia dos dias de hoje. Taymiyya fazia parte da escola de jurisprudência hanbalita e, devido a esse fato, fazia uso de uma interpretação literal dos textos e rejeitava interpretações alegóricas ou metafóricas dos atributos divinos (Cherem, 2013). Hourani (2013, p. 243) traz a importância de Taymiyya, agregada às idéias de Ibn Hanbal, para história islâmica:…”

“…O jihad maior, com significado religioso, pode ser colocado como uma luta contra as tentações ("jihad do coração", "jihad da alma"). Cherem (2009) pontua que a categoria possui uma abertura para o diálogo é abordada dentro de todo contexto islâmico.…”

“…Porém, aqui nesse ponto será trabalhado o conceito de jihad menor, que é abordado dentro do islã, que representa a defesa da fé e que se conecta com a guerra. Cherem (2009) coloca esse jihad como não menos importante, porque seria a defesa da religião e da fé. Além do direito de exercer a fé, essa categoria possui um último item, que é a luta em legitima defesa, caso o muçulmano se sinta ameaçado e\ou desrespeitado.…”

“…Quando houve a formação do campo teórico do grupo, ficaram determinados os objetivos, que eram: a retirada das tropas americanas, acabar com as intervenções militares que matam os muçulmanos (em todo o mundo), a resolução da questão Palestina e, por fim, cessar o apoio a ditadores muçulmanos que colaboram com o ocidente (Cherem, 2009). Veem-se claramente, nos objetivos citados acima, as ideias e as mesmas indignações de Qutb, que almejava um país islâmico com autonomia e que respondesse por sua religião, sua política e economia.…”

“…Cherem (2009, p. 88), em seu artigo sobre o jihad, aponta, de maneira clara, as razões que levaram Osama bin Laden a declarar jihad ao ocidente: Nessa declaração é visível todo o ressentimento contra o ocidente, com todos seus atos, parcerias políticas, convicções. Na visão de Osama bin Laden, o ocidente é egoísta e se acha possuidor de uma única fonte de verdade, além de suas políticas pregarem a desigualdade (Cherem, 2009). Após a morte de bin Laden, a Al-Qaeda passa a não recrutar somente os -fiéis; surgem também afiliados, como a Al Nusra -, que já era um dos braços da Al-Qaeda no Iraque.…”