A psicologia da saúde crítica (PSC) emergiu nos anos 1990, diferenciando-se da psicologia da saúde tradicional (PST) pela sua aposta num posicionamento de reflexão crítica (Hepworth, 2006; Murray & Poland, 2006). Este posicionamento não representa somente uma atitude crítica face à psicologia da saúde tradicional. Pelo contrário, diz respeito a três aspectos essenciais (Hepworth, 2006): a relação diferencial entre psicologia da saúde tradicional e a crítica; a natureza do movimento crítico em saúde e, ainda, o significado da posição crítica. Neste âmbito, colocam-se cinco questionamentos fundamentais: -Será que a psicologia da saúde veio trazer realmente benefícios para a saúde? -Que saúde é beneficiada pela psicologia da saúde? -Quem beneficia com a psicologia da saúde? -Que parcerias têm carácter estratégico para os psicólogos da saúde? -A perspectiva crítica é apenas uma perspectiva complementar em psicologia da saúde?A principal tarefa é a de promover uma reflexão sobre a utilidade dos modelos teóricos e das metodologias de investigação e intervenção da psicologia da saúde para a promoção da saúde dos indivíduos e das comunidades. Por exemplo, saber se a abordagem individualista que procura explicar os determinantes dos comportamentos relacionados com a saúde não contribuirá para mascarar o papel das desigualdades sociais nos padrões de saúde e doença em diferentes países. Ou seja, sendo verdade que é necessário identificar os factores psicológicos individuais associados à saúde e às doenças é indispensável estudá-los em contexto social, económico e cultural.Para responder a esses questionamentos é importante ter em conta que as teorias em psicologia da saúde foram predominantemente desenvolvidas num contexto cultural concreto -o anglo-saxónico -em especial nos Estados Unidos da América e nos países de língua inglesa da Europa e da Commonwealth (Marks, 2000, citado por Lyons & Chamberlain, 2006. A produção do conhecimento científico assenta em investigação realizada em países desenvolvidos. Estes factos tornam compreensível que entre os principais traços da psicologia da saúde tradicional se encontrem o individualismo, o positivismo, o predomínio dos modelos cognitivos na explicação dos determinantes dos comportamentos relacionados com a saúde e as doenças, bem como a ausência de teorização sobre o corporalidade.Mais do que uma crítica da psicologia da saúde tradicional ("mainstream"), que também é, a psicologia da saúde crítica é uma tentativa de desenvolvimento de novas formas de pensar a saúde e as doenças e de novas estratégias de participação da psicologia na transformação de um mundo pouco saudável (Murray & Polland, 2006). Trata-se, portanto, também de uma nova forma de pensar e de transformar a intervenção dos psicólogos no sistema de prestação dos cuidados de saúde e na comunidade.
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