Introdução. A problemática social na literatura brasileira

Abstract

A problemätica social na literatura brasileiraA problemätica social sempre foi um dos temas mais recorrentes da literatura brasileira. Ja presente no periodo colonial do Brasil, que perdurou ate 1822, näo seria exagero afirmar que a propria fundagao da nossa cultura especif icamente literaria, isto e, visando a urn efeito estetico, continha os germes da questao: referimo-nos ao teatro do jesuita Jos4 de Anchieta (1534-1597), que, defrontado com a alteridade do universo indigena, escreveu em lingua tupi algumas pecas em que buscava adaptar as referencias dos silvicolas os principios fundamentals da Igreja Catolica. Poder-se-ia objetar que, nesse caso, era a palavra do dominador-vertida embora a lingua do dominado-que se fazia ouvir, mas conveniente repensar a simplif icagao que consiste em associar tema social unicamente äs manifestagöes dos que estao fora do comando: a perpetuagao do poder pressupoe mecanismos que se disseminam por värios agentes, inclusive literärios. No Brasil-Colonia, poucas vozes desaf inaram coro dos reverenciadores da Coroa Portuguesa. Citemos a veia satirica do poeta barroco Gregorio de Matos (1633-1696), irreverente no combate aos prepostos do Rei em terras brasileiras, mas equivocada ao destilar preconceitos contra a miscigenagao etnica da entäo Colönia; registremos a palavra eloquente do padre Antonio Vieira (1608-1697), que em alguns de seus sermöes defende indios e negros, com as precaugöes que o momento impunha. No periodo neoclassico (sec. XVm), destacanse, pela contundente caricatura que faz de um governante, o poema Carlos chilenas, que a opoca circulou anonimo, e que depois foi atribuido a Tomas Antonio Gonzaga (1744-1810), um dos poetas envolvidos num fracassado movimento pela emancipacao do Brasil. E com Romantismo, na segunda metade do seculo XIX-ja, portanto, no periodo de autonomia politica-que as contestagöes ä ordern vigente ganham uma dimensao estetica mais realizada, sobretudo atraves de Sousandrade (1833-1902) e de Castro Alves (1847-1871. primeiro e autor da epop&a guesa, num curioso projeto de pan-americanismo que inclui a nota corrosiva do texto "O inferno de Wall Street", verdadeira formulagao premonitoria das engrenagens do capitalismo dito seivagem. O segundo 6 cognominado "o poeta dos escravos", pela candente atuacao em prol da abolicao da escravatura no pais, em versos vibrantes e retoricos, apesar da cautela em descrever negro com tragos mesticos ou morenos, numa estrat^gia (discutivel, mas bem-Brought to you by | University of Arizona Authenticated Download Date | 5/31/15 7:14 AM