Walter Benjamin, ao desempacotar sua biblioteca, tece várias considerações sobre a relação entre o colecionador e seus pertences. Na desordem de caixotes abertos, o autor traz as lembranças que cada livro, folheto ou álbum despertam. Chama a atenção para a desordem habitual dos livros que compõem uma biblioteca. Por ser um lugar aberto ao acaso e ao destino de cada novo elemento que entra na coleção, impõe ao colecionador uma tensão dialética entre a ordem e a desordem: "toda ordem é precisamente uma situação oscilante à beira do precipício" (Benjamin, 1994, p. 228). Constituir uma biblioteca é justamente estar diante de algo ao mesmo tempo inescrutável, impenetrável e incompreensível, mas também inconfundível, porque cada uma tem suas próprias características, já que são marcadas pelas diferentes ordens dadas pelos sujeitos que ali estabelecem relações. Uma "verdadeira biblioteca" seria, então, aquela que guarda e desperta memórias individuais e coletivas, que permite o penetrar e as descobertas, mas, simultaneamente, esconde e guarda mistérios a serem desvendados.