Abstract:Com o fim da URSS, as ex-repúblicas socialistas adquirem o status de países independentes e dão início à construção de uma nova ordem no leste da Europa. A instabilidade é esperada, pois a falência da autoridade central soviética introduz os novos países no reino da anarquia. Nesse sentido, a emergência de Estados soberanos traz à tona uma série de conflitos de interesses que permaneceram latentes durante o regime comunista e nos quais a Rússia está envolvida por causa de sua extensão territorial, o tamanho de… Show more
“…Criou-se, então, um círculo vicioso responsável por alimentar a identidade anti-ocidental da Rússia (ARBATOV, 1993). Mas não foi só isso: identidades e interesses se retroalimentam (MIELNICZUK, 2006). O interesse prático do Ocidente em ocupar o vácuo geopolítico deixado pelo fim do Pacto de Varsóvia resultou na transformação da OTAN em uma aliança de ataque.…”
Section: A Debilidade Do Tratamento Teóricounclassified
A presente guerra entre Rússia e Ucrânia aturdiu um grupo bastante representativo de acadêmicos e diplomatas ocidentais. Entretanto, frente à então "inesperada" anexação da Crimeia, ocorrida em 2014, e o início do confronto no Donbass, tal postura seria no mínimo incauta. Esta análise de conjuntura tenta dar conta das origens do problema a partir da complexidade empírica da relação russo-ucraniana e da incapacidade teórica da disciplina de relações internacionais em perceber o círculo vicioso entre identidades e interesses, o qual foi fundamental para chegarmos à situação atual. À guisa de conclusão, sugere-se que a única alternativa para cessar a violência imediatamente seria a declaração unilateral da OTAN de uma moratória ao ingresso de novos membros, por um prazo bastante estendido, e o comprometimento de se iniciarem negociações sobre um estatuto de neutralidade militar da Ucrânia.
“…Criou-se, então, um círculo vicioso responsável por alimentar a identidade anti-ocidental da Rússia (ARBATOV, 1993). Mas não foi só isso: identidades e interesses se retroalimentam (MIELNICZUK, 2006). O interesse prático do Ocidente em ocupar o vácuo geopolítico deixado pelo fim do Pacto de Varsóvia resultou na transformação da OTAN em uma aliança de ataque.…”
Section: A Debilidade Do Tratamento Teóricounclassified
A presente guerra entre Rússia e Ucrânia aturdiu um grupo bastante representativo de acadêmicos e diplomatas ocidentais. Entretanto, frente à então "inesperada" anexação da Crimeia, ocorrida em 2014, e o início do confronto no Donbass, tal postura seria no mínimo incauta. Esta análise de conjuntura tenta dar conta das origens do problema a partir da complexidade empírica da relação russo-ucraniana e da incapacidade teórica da disciplina de relações internacionais em perceber o círculo vicioso entre identidades e interesses, o qual foi fundamental para chegarmos à situação atual. À guisa de conclusão, sugere-se que a única alternativa para cessar a violência imediatamente seria a declaração unilateral da OTAN de uma moratória ao ingresso de novos membros, por um prazo bastante estendido, e o comprometimento de se iniciarem negociações sobre um estatuto de neutralidade militar da Ucrânia.
“…Foram o caso de, em ordem alfabética, da Bielorrússia, Estônia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Letônia, Lituânia, Moldávia, Tajiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão -além da Rússia, que também se transformou num novo Estado nacional e que permaneceu praticamente com a mesma extensão territorial da antiga Rússia, uma das então repúblicas soviéticas. Os diferentes governos que logo se sucederam à recriação do Estado russo nunca viram com bons olhos a expansão para o leste europeu da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), uma organização supranacional do chamado bloco capitalista ocidental criada em 1949 logo após o fim da Segunda, ainda num forte contexto de Guerra Fria, para estabelecer uma frente de cooperação militar transfronteiriça para seus Estados-membro (Piccolli, 2015;Lira Nascimento, 2008;Mielniczuk, 2006;Gaspar, 1995).…”
Section: Introductionunclassified
“…De todo modo, o crescente processo de ocidentalização de algumas das ex-repúblicas soviéticas foi-se estabelecendo no início do Século XXI sem grandes ameaças ou sem possibilidade de reação de Moscou, em função das fragilidades do Estado russo diante da nova ordem geopolítica mundial (Lira Nascimento, 2008;Mielniczuk, 2006). Neste ínterim, destacaram-se as entradas da Letônia, Lituânia e Estônia para a OTAN em 2004.…”
Resumo Neste artigo, nosso objetivo é apresentar quais as formações discursivas, conforme definição do filósofo francês Michel Foucault em sua obra A Arqueologia do Saber (1969), estiveram presentes no jornalismo impresso brasileiro e português a propósito da ação militar da Rússia desencadeada em território ucraniano em 24 de fevereiro de 2022. Este conceito será ainda discutido frente às redefinições de Michel Pêcheux, teórico da Análise do Discurso de linha francesa, o qual deu novos contornos à noção foucaultiana. Analisamos 16 capas de jornais (oito brasileiros e oito portugueses) publicados no dia seguinte ao início das ações russas na Ucrânia. Nossa leitura observa uma adesão dos veículos lusos à causa ucraniana e à demonização do presidente russo Vladimir Putin como o responsável pela deflagração do conflito; no caso brasileiro, a formação discursiva em torno da guerra está bem presente, mas Putin faz parte de uma formação discursiva distinta daquela operada em Portugal.
“…This was the case, in alphabetical order, from Belarus, Estonia, Georgia, Kazakhstan, Kyrgyzstan, Latvia, Lithuania, Moldova, Tajikistan, Turkmenistan, Ukraine and Uzbekistan -in addition to Russia, which also became a new national state and remained with practically the same territorial extension of former Russia, one of the then Soviet republics. The various governments that soon followed the recreation of the Russian State never welcomed the expansion into Eastern Europe of the North Atlantic Treaty Organization (NATO), a supranational organization of the so-called Western capitalist bloc created in 1949 shortly after the end of the Second, still in a strong Cold War context, to establish a front of cross-border military cooperation for its member states (Piccolli, 2015;Lira Nascimento, 2008;Mielniczuk, 2006;Gaspar, 1995).…”
mentioning
confidence: 99%
“…In any case, the growing process of westernization of some of the former Soviet republics was established at the beginning of the 21st century without major threats or without the possibility of a reaction from Moscow, due to the weaknesses of the Russian State in the face of the new global geopolitical order (Lira Nascimento, 2008;Mielniczuk, 2006). Meanwhile, Latvia, Lithuania and Estonia entered NATO in 2004.…”
The aim of this article is to show which discursive formations, as defined by the French philosopher Michel Foucault in his work The Archeology of Knowledge (1969), were present in Brazilian and Portuguese printed journalism regarding Russia's military action unleashed on Ukrainian territory in February 24, 2022. This concept will also be discussed in light of the redefinitions of Michel Pêcheux, a French theorist of Discourse Analysis, who gave new contours to the Foucauldian notion. We analyzed 16 newspaper covers (eight Brazilian and eight Portuguese) published the day after the beginning of the Russian actions in Ukraine. Our reading observes the support of Portuguese media outlets for the Ukrainian cause and the demonization of Russian President Vladimir Putin as responsible for the outbreak of the conflict; In the Brazilian case, the discursive formation around the war is very present, but Putin is part of a discursive formation that is different from that operated in Portugal.
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