História Oral Como Método Para a Compreensão Do Ofício Das Parteiras Do Semiárido Brasileiro

Abstract

RESUMO Objetivo: compreender o processo histórico do ofício das parteiras do semiárido nordestino brasileiro por meio da história oral. Método: estudo qualitativo realizado em nove municípios do Cariri cearense com 16 parteiras, por meio do método da história oral. Foi utilizada, como instrumento de coleta de dados, a entrevista semiestruturada, com gravação das entrevistas em vídeo. Os relatos foram transcritos, textualizados e transcriados, sendo analisados segundo o método da história oral de vida. Resultados: a inserção de mulheres no ofício de parteiras ocorreu de forma transcendental ou essencial. Foi considerado um dom autônomo, divino ou aprendido pelo convívio com outras parteiras mais experientes. Seus conhecimentos variaram entre os saberes empírico e científico, tendo sido modificados ao longo do tempo, por conta do crescimento da medicalização, instigando a reflexão diante da atuação profissional voltada à saúde da mulher. Isto valorizou o parto, tornado um momento único, respeitando todos seus significados e devolvendo à mulher seu direito de ser mãe com humanidade e segurança. Conclusão: ficou evidente a forma natural e transcendental com que as parteiras foram inseridas neste ofício, motivadas pelo sentimento de altruísmo em um contexto histórico e social de ausência de acesso universal à saúde, de localização geográfica rural e de pouca disponibilidade de recursos humanos na saúde. Ficaram evidentes, deste modo, seus valores e sua importância no cenário da saúde obstétrica brasileira.

A singularidade que cuida como conceito ferramenta na arte de partejar: narrativas de parteiras tradicionais

“…As duas narrativas que apresentamos chamaram a atenção por revelar o lugar central dado à gestante na construção do cuidado (Santos, 2019, Gomes, et al, 2016, Oliveira, Peralta & Sousa, 2019. Com isso, importa não apenas saber se a mulher faz o pré-natalquestão recorrente nas narrativas das parteiras -, mas também o seu acompanhamento, com quem pode contar, as decisões que implicam o tipo de parto, onde ter o seu bebê e, em ato, o jeito de melhor acomodar a mulher, bem como lhe acomode, para a passagem e segurança do bebê.…”

“…O nascimento, como evento fisiológico, familiar e social, está historicamente associado à arte de partejar, que tem base nas raízes de conhecimento e herança ancestral (Santos, 2016, Santos, 2019, é fruto de saberes e práticas majoritariamente desenvolvidos por mulheres, é mediado pela cultura, ligado a um território, com sistemas de crenças, valores e costumes de um determinado grupo. As parteiras se inserem nesse lugar do partejar pelo conhecimento transmitido oralmente por gerações, com assimilação de experiência, em que o ouvir e observar são acionados pela curiosidade ou pelas necessidades do contexto histórico-social e configuram suas práticas (Gomes, et al, 2016, Oliveira, Peralta & Sousa, 2019, Pereira, 2016, Cardoso & Nascimento, 2019.…”

“…A construção do cuidado a mulheres deve ocorrer em articulação com a diversificada formação cultural da população brasileira, a singularidade dos contextos e, assim, dos conhecimentos que envolvem, por exemplo, etnias distintas dos povos originários e quilombolas. Em algumas áreas do país, em especial nas zonas rurais, ribeirinhas e lugares de difícil acesso, as parteiras tradicionais representam principal acesso à construção da assistência a mulheres e bebês e expressão de apoio e fonte de conforto para além do momento do parto (Santos, 2019, Gomes, et al, 2016, Oliveira, Peralta & Sousa, 2019. Em outros lugares, têm se apresentado como oferta de cuidado diferenciado.…”

Evolução histórica da configuração da equipe de enfermagem em um hospital militar

“…Realizaram-se entrevistas com cinco enfermeiros que fizeram parte da primeira turma de oficiais e que foram alocadas no Hospital durante todo o ano de 1995. Por se tratar de pesquisa histórica, as entrevistas realizadas deram conta de atender aos objetivos do estudo, visto que na história oral até mesmo uma única entrevista pode ser relevante, desde que seja suficientemente significativa para viabilizar certo grau de generalização dos resultados do estudo (7)(8) . Após os participantes declararem que não estavam com dúvidas sobre o desenvolvimento do estudo e respectivos objetivos, firmaram o Termo de Consentimento Livre e Es clarecido, em duas vias.…”

“…Os dados foram analisados com base em fontes indiretas, as quais foram constituídas de livros e artigos sobre o tema, com ênfase nos estudos sobre enfermagem militar; e artigos que adotavam conceitos próprios à metodologia histórica (7)(8) . Em conformidade com o método histórico, os achados foram organizados após o processo de classificação e organização.…”