Gênero, sexualidades e deslocamentos: notas etnográficas sobre imigrantes e "refugiados LGBTI" no Norte do Brasil

Abstract

Resumo Neste trabalho, partimos da emergência da categoria de “refugiados LGBTI” nos anos 2000 e de como ela tem operado no Brasil, para em seguida apresentar uma visão de conjunto em torno da literatura sobre o tema. Num segundo momento, tensionamos essa literatura mobilizando notas etnográficas de pesquisas realizadas num abrigo voltado para refugiados reconhecidos como “LGBTI” em Manaus e na Operação Acolhida em Boa Vista e em Pacaraima, na região Norte do Brasil. Além de oferecer uma contribuição desde a perspectiva antropológica para um tema relativamente novo no entrecruzamento entre refúgio, gênero e sexualidade, o artigo visa também contribuir para as pesquisas sobre as recentes migrações venezuelanas.

Recriando Lugares Para Si: Sociabilidade E Autorreconhecimento De Migrantes Lgbti+ No Rio De Janeiro

“…As operações do sistema de migração e refúgio brasileiro: documentos e procedimentos Vista (Fontgaland;França, 2020). Além disso, em Boa Vista há um abrigo gerido pelo ACNUR (como a maioria dos abrigos o são, pela Medida Provisória n. 823) destinado a "mulheres solteiras, casais sem filhos e pessoas declaradamente não-cisheterossexuais" (Fonseca, 2020, p.19).…”

“…Francis foi uma das mulheres citadas pelos interlocutores da referida pesquisa, comunicando-se com agências e tendo conseguido o adiantamento da interiorização de um grupo de jovens transgênero para o Rio de Janeiro. As autoras asseveram que os agentes humanitários que entrevistaram, por conhecerem a diversidade de vivências determinadas pelas identidades LGBTI+, puderam entender que as pessoas trans, constantemente expostas a violências e vistas como prostitutas, deveriam ter um processo de mobilidade diferenciado, que aconteceu graças à auto-organização de Francis e outras (Fontgaland;França, 2020).…”

“…Yolanda tem uma obrigação moral para com a família como forma de negociar a aceitação, diminuir a vergonha e compensar a desvalorização pessoal advinda da LGBTI+fobia através da ascensão social. Frente à discriminação, é comum que pessoas não-cisheterossexuais sintam a necessidade de provar seu valor frente à família através de uma postura de responsabilidade econômica familiar (Fontgaland;França, 2020), que pode gerar um sobrepeso psicológico pela responsabilização excessiva que ela sente pela estabilidade financeira da mãe e do irmão mais novo na Colômbia, que ela auxilia financeiramente e sonhava em trazer, um dia, para o Brasil.…”

“…França, 2020). Os números não incluem as centenas de milhares de pessoas venezuelanas que migraram de 2019 em diante, que tiveram refúgio reconhecido em bloco através das Portarias Interministeriais anteriormente descritas.…”

“…Em 2019, o ACNUR-Brasil publicou um dos escassos estudos sobre pedidos de refúgio relacionados à orientação sexual e identidade de gênero, o que confere uma relevância significativa a esses dados no contexto geral dos registros oficiais no Brasil(Fontgaland;França, 2020). O levantamento documentou 369 solicitações de refúgio feitas no país até 2016.Até 2018, 52,8% desses pedidos ainda estavam em análise, 10,8% haviam sido negados ou arquivados, e 35,2% foram aprovados.…”