Mover-se ou não mover-se? As múltiplas pandemias a partir de trânsitos e narrativas de uma solicitante de refúgio lésbica ao Sul Global

Abstract

Resumo A questão da mobilidade tem ganhado destaque durante a pandemia de Covid-19, onde políticas de restrição vêm sendo implementadas como um dos dispositivos de controle epidemiológico mais comuns ao redor do mundo. Este artigo busca analisar algumas tensões, discursos e silêncios em torno dos fluxos de retorno (“voluntário”?) de migrantes e refugiados venezuelanos na Colômbia e no Brasil no contexto pandêmico. Em seguida, busca evidenciar como marcadores sociais de diferença modulam impactos desiguais da pandemia, sobretudo nas (re)configurações das mobilidades, tomando como foco a narrativa de uma mulher lésbica venezuelana e solicitante de refúgio no Brasil. Pretendendo apresentar e “contar” (no sentido de narrar) a pandemia como um evento biográfico, defendendo ser esta uma das principais contribuições das ciências sociais para a compreensão deste contexto.

Repercussões sociossanitárias da pandemia por Covid-19 para imigrantes e refugiados no Brasil: uma revisão narrativa da literatura

“…Os estudos desta categoria versam acerca de questões que acirraram ou trouxeram novos componentes relacionados à desigualdade estrutural vivenciada por imigrantes, refugiados e solicitantes de refúgio no contexto da pandemia por Covid-19 (Antonucci, 2021;Granada et al, 2021;Martuscelli, 2021;Martuscelli, 2022;Tonhati, Macêdo, 2021;Santos, Costa, 2020;Silva et al, 2021;Souza et al, 2020;Zapata, Rosas, 2020). Dentre os principais elementos evidenciados estão dificuldades relacionadas à moradia (Martuscelli, 2021;Zapata, Rosas, 2020;Santos, Costa, 2020), ao trabalho (Antonucci, 2021;Granada et al, 2021;Martuscelli, 2021;Martuscelli, 2022;Santos, Costa, 2022;Souza et al, 2020;Tonhati, Macêdo, 2021;Zapata, Rosas, 2020), garantia de alimentação e subsistência (Martuscelli, 2021;Martuscelli, 2022;Santos, Costa, 2020;Souza et al, 2020;Zapata, Rosas, 2020), o aumento da violência e o aumento da sobrecarga de mulheres migrantes no trabalho doméstico, influenciado pelo fechamento de escolas.…”

“…Estudos que expressaram esta categoria de análise explicitaram que discriminação, preconceito e xenofobia são parte da condição de vida de múltiplos grupos de migrantes internacionais (Antonucci, 2021;Camargo et al, 2022;Granada et al, 2021;Martuscelli, 2020;Martuscelli, 2021;Santos, Costa, 2020;Zapata, Rosas, 2020). Ao longo da pandemia, os discursos anti-imigrante foi exacerbado e, por vezes, estes grupos assumiram o lugar de "bode expiatório" de vetores de transmissão do vírus (Camargo et al, 2022;Santos, Costa, 2020;Zapata, Rosas, 2020).…”

“…Por fim, questões relacionadas à etnia, ao gênero e à orientação sexual corroboram para promover experiências de dupla estigmatização, especialmente aos sujeitos que são negros (Granada et al, 2020), asiáticos (Zapata, Rosas, 2020) e lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais e demais orientações, reconhecidas pela sigla LGBTQIA+ (Antonucci, 2021;Santos, Costa, 2020). Antonucci (2021) e Santos e Costa (2020) apontam que, além da discriminação relacionada ao status migratório, esses sujeitos têm que lidar com a violência de gênero e LGBTQIA+ fobia.…”

“…Por fim, questões relacionadas à etnia, ao gênero e à orientação sexual corroboram para promover experiências de dupla estigmatização, especialmente aos sujeitos que são negros (Granada et al, 2020), asiáticos (Zapata, Rosas, 2020) e lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais e demais orientações, reconhecidas pela sigla LGBTQIA+ (Antonucci, 2021;Santos, Costa, 2020). Antonucci (2021) e Santos e Costa (2020) apontam que, além da discriminação relacionada ao status migratório, esses sujeitos têm que lidar com a violência de gênero e LGBTQIA+ fobia. Antonucci demonstra a Repercussões sociossanitárias da pandemia por Covid-19 para imigrantes e refugiados no Brasil dificuldade de uma imigrante lésbica em se manter em abrigos ou em casa de familiar durante o período de isolamento social da pandemia, em decorrência de preconceitos sofridos pela sexualidade e expressão de gênero.…”

“…Esta categoria trata das repercussões na saúde mental dos grupos de migrantes internacionais durante a pandemia. Dentre os fatores que geraram sofrimento psíquico estão: preocupação com familiares, medo de contaminação e morte, desânimo e solidão, incerteza e desesperança, bem como a sensação de viver a pandemia duplamente, no país natal e na atual residência (Antonucci, 2021;Santos, Costa, 2021;Souza et al, 2021;Martuscelli, 2020;Martuscelli, 2021;Martuscelli, 2022).…”