Gênero, sexualidade e idade: tramas heteronormativas nas práticas pedagógicas da educação física escolar

Abstract

Resumo O artigo analisa a produção da (hetero)normalização do gênero e da sexualidade em articulação com a idade na trama da educação física escolar. Apresenta parte dos resultados de uma pesquisa que buscou analisar as práticas pedagógicas desenvolvidas por docentes que ministram aulas de educação física em escolas estaduais distribuídas em sete cidades dos nove municípios que compõem a região do Vale do Jiquiriçá (BA). Para acessar esses sujeitos, foi realizado um seminário de formação de professores e utilizaram-se grupo focal e entrevistas como estratégias metodológicas. Tomando como referências teórico-metodológicas e políticas os estudos feministas pós-estruturalistas, a teoriaqueer e os estudos foucaultianos, discute-se como a dimensão cronológica é tratada de forma fixa e etapista e torna-se definidora do que se pode conhecer e de como se pode conhecer na escola. A pesquisa aponta para certa conexão, por vezes contínua e, em outros momentos, descontínua, entre gênero, sexualidade e idade nas aulas de educação física da região investigada. Por um lado, docentes indicam que a sexualidade se manifesta na escola desde cedo, ainda na infância, em função de fatores regionais, e de forma exacerbada nos meninos. Por outro lado, a idade cronológica dos corpos dos estudantes funciona como uma norma regulatória quando se trata dos temas da sexualidade, o que contribui para reforçar a promoção/assunção do pressuposto sexo-gênero-prática heterossexual como natural a partir da adolescência.

Eu Falo, Tu Falas E Ninguém Ouve: conversas sobre sexo e sexualidade entre adolescentes e jovens no espaço escolar

“…Os diálogos sobre a sexualidade com os filhos podem possibilitar as orientações a fim de esclarecer dúvidas importantes dos adolescentes (Savegnago & Arpini, 2016 Os adolescentes têm, portanto, seus direitos sexuais negligenciados, pois não se dialoga sobre a temática e a compreensão dos fatores que envolvem a questão não é assimilada por todos. Um exemplo da violação de direitos é quando os adolescentes são reprimidos por suas escolhas e por suas identidades, precisando se adequar ao padrão heteronormativo imposto (Dornelles & Dal'Igna, 2015). Muitas dessas violações como a discriminação e a violência que os jovens enfrentam quanto à sexualidade são interceptados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos: "Art.…”

“…Em relação aos comportamentos dos jovens, perpassando o campo da sexualidade, a construção dos discursos contorna a resistência em falar sobre sexo, questões afetivo-sexuais, masturbação, orientação sexual e identidade de gênero (Dornelles & Dal'Igna, 2015), como No que tange esta real relutância ao diálogo, é necessário descontruir o modelo machista e heteronormativo que permeia as relações, para que os adolescentes e jovens não fiquem envoltos em dúvidas que -diga-se de passagem -são próprias dessa fase da vida, que consigo já carrega fragilidades e responsabilizações (Nascimento et al, 2019).…”