Formação e socialização: os ateliês biográficos de projeto

Abstract

A partir de um quadro geral de caminhos de formação por meio das histórias de vida, que apelam para procedimentos de exploração e se inscrevem contra uma definição acadêmica e instrumental da intervenção formativa, a proposta deste artigo é a de apresentar um dispositivo particular - os ateliês biográficos de projeto. O texto desenvolve, ao mesmo tempo, os princípios teóricos relativos a esse dispositivo, em suas modalidades práticas, e os desafios de formação de que ele é portador. O ateliê biográfico de projeto é um procedimento que inscreve a história de vida em uma dinâmica prospectiva que liga o passado, o presente e o futuro do sujeito e visa fazer emergir seu projeto pessoal, considerando a dimensão do relato como construção da experiência do sujeito e da história de vida como espaço de mudança aberto ao projeto de si. No quadro de um grupo de 12 pessoas, as histórias de vida individuais são o objeto de um trabalho de exploração e de socialização que passa por atos de escritura de si (autobiografia) e pela compreensão do outro (heterobiografia). O procedimento de formação acionado tem por objetivo explícito, portanto, colocar os participantes em situação de extrair um projeto de si profissional.

Autorregulação da aprendizagem em contexto escolar: uma abordagem baseada em Ateliês Biográficos de Projetos

“…A abordagem metodológica é inspirada no ateliê biográfico de projetos de Delory-Momberger (2006 Terceira etapa -Produção escrita de uma narrativa autobiográfica sobre o percurso escolar do aluno, suas dificuldades ao longo da escolarização, as experiências no contexto escolar e reflexões sobre as estratégias pessoais utilizadas no estudo.…”

“…A pesquisa autobiográfica e, mais especificamente, os Ateliês Biográficos de Projetos -ABPs (DELORY-MOMBERGER, 2006 proporcionam essa autorreflexão do sujeito e, dessa forma, podem intervir no desenvolvimento da autorregulação da aprendizagem. As narrativas orais e escritas são meios de reflexão e instrumentos de introspecção (GOHARD-RADEKOVIC; RACHÉ-DI, 2009) suscetíveis de fazer compreender como os estudantes percebem-se e constituem-se como agentes da própria formação no cotidiano de experiências escolares, através do processo da aprendizagem autorregulada.…”

Indícios da ação formativa dos formadores de professores de química na prática de ensino de seus licenciandos

“…A escolha dessa abordagem para o estudo da formação e da prática do formador de professores e dos licenciandos se justifica, também, pelo fato de ela constituir num método eficiente de pesquisa defendido por vários pesquisadores (NÓVOA, 1992(NÓVOA, , 1995PEREIRA, 2006;GOODSON, 1992GOODSON, , 1995DOMINICÉ, 2006;DELORY-MOMBERGER, 2006; entre outros) e por permitir a transferência de poder para aqueles sujeitos que normalmente são os mais oprimidos, revelando um caráter emancipador; permitir que o sujeito fale por si mesmo fomentando a consciência reflexiva; permitir que o próprio sujeito atribua significado à sua vida cotidiana a partir do relato das experiências vividas; contribuir para a construção de uma 'autoidentidade de gênero'; e por levantar a autoestima daquele que conta sua história. O movimento socioeducativo sobre a história de vida dos professores é importante também para a apropriação de suas ações, na forma de competências, e para uma maior integração de sua prática (NÓVOA, 1992).…”

Para além da escola e da empresa: contribuições para o atendimento em orientação de carreira

“…Porém, nem sempre é preciso retomar a experiência objetiva como mencionada no currículo, a exemplo do que se faz numa entrevista de emprego. Importa mais o relato pessoal, a ênfase dada a determinados acontecimentos e à maneira de contar os fatos (Delory-Momberger, 2006;Duarte, 2009;Winnicott, 1971Winnicott, /1984.…”

“…e) "Desvios" e apropriações É fundamental que a orientação abra espaço para a reflexão e enunciação dos fatos vivenciados, retomando o fio de uma narrativa de vida capaz de dar sentido aos acontecimentos (Delory-Momberger, 2006;Sennett, 2002). Longe de uma prática diretiva e fundada num "passo a passo", é preciso haver liberdade para os "desvios" do pensamento, que dão lugar à ressignificação.…”