Em 2017 e 2019 ocorreram dois ‘massacres’ em prisões de Manaus, capital do estado brasileiro do Amazonas. O discurso dominante reduz esses acontecimentos a uma ‘guerra’ entre facções criminosas pelo controle de rotas internacionais de tráfico de drogas. O artigo parte de uma problematização desse discurso (de sua natureza colonial e de seus efeitos de verdade) e esboça uma outra análise que atenta para as correlações entre transformações carcerárias e criminais. O artigo defende a ideia de que uma nova gestão do sofrimento e um novo regime de tortura, experimentados por presos e suas familiares, foram determinantes para a desestabilização e reconfiguração das alianças no crime após os massacres. O texto é fruto de uma experiência de conhecimento imersa na luta anticarcerária, incluindo convivência intensa com familiares de pessoas presas e sobreviventes, comunicações com órgãos de fiscalização e participação em inspeções dentro de unidades prisionais.