Desde as jornadas de junho de 2013 e da ascensão da Operação Lava Jato, o Brasil vivencia uma profunda crise que teve como consequências a criminalização da política, o golpe parlamentar de 2016 (Santos, 2017) e a inédita eleição da extrema-direita à presidência da República com a vitória de Jair Messias Bolsonaro nas eleições de 2018. Dentro de um contexto no qual a democracia brasileira foi profunda e continuamente atacada, o tema do autoritarismo retornou como questão central da produção acadêmica e do debate público brasileiros (Ribeiro, 2020).A crise da democracia, o autoritarismo e as ameaças de ruptura institucional, contudo, são dilemas globais, e não particularidades brasileiras, como podemos observar por meio dos trabalhos de Santos (2017), Miguel (2019), Morelock (2018), Levitsky e Ziblat (2018) e Teitelbaum (2020). Os últimos quatro autores, inclusive, se debruçam sobre a crise da democracia norte-americana que, para muitos, parecia segura de qualquer ameaça.Nesse sentido, o bolsonarismo, apesar dos elementos próprios à realidade brasileira, faz parte de uma conjuntura maior de ascensão global da extrema-direita no mundo (Nobre, 2020).Um elemento nacional importante, por sua vez, foi a reorganização da direita brasileira, que fez com que houvesse, nas eleições de 2018, uma relação mais consistente entre voto e ideologia, sobretudo se compararmos com eleições anteriores. Assim, a eleição de Bolsonaro representou a votação em um candidato com o qual os eleitores compartilhavam valores (Fuks; Marques, 2020).Nesse contexto global de resseção democrática que colocou a extrema-direita como movimento político mais transformador do século XXI (Teitelbaum, 2020), o populismo, um dos conceitos mais controversos e polissêmicos da teoria política (Cassimiro, 2021), voltou à ordem do dia (Ricci et al., 2021).A categoria, contudo, tem uma longa utilização no país, desde os anos 1950, quando foi mobilizada para a compreensão do ademarismo pelo então Instituto de Brasileiro de Economia, Sociologia e Política -IBESP (Gomes, 1996). Posteriormente, o populismo foi consagrado pela clássica interpretação de Francisco Weffort (2003). Agora, o conceito voltou a ser mobilizado para a caracterização do bolsonarismo e do seu personagem central, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro. Nesse contexto, o populismo foi utilizado por vários autores como Schwarcz (2019), DaMatta (2020), Tamaki; Fuks (2020), Ricci; Izumi; Moreira (2021) para cada qual ao seu modo, compreender o bolsonarismo. O trabalho de Lynch e Cassimiro se junta, portanto, às interpretações que pretendem oferecer uma explicação para a crise brasileira