“…Essa posição de desestabilizar o leitor, de não fornecer uma realidade que seja palpável, é uma questão que atravessa o romance de Tapajós, porque o horror e os crimes que a ditadura cometeu contra diversos setores da população, e no caso de Em câmara lenta, contra jovens militantes, eram tão absurdos que o incômodo foi transmitido por essa desconexão com o real linear.Além das abordagens ditas acima, a utilização de frases longas e a ausência de parágrafos que tenham a função de delimitar o fluxo narrativo e a blocagem de texto, muitas vezes extensa, são funções formais que convidam a quem lê a ser interventor da narrativa. Assim, irão intervir em uma narrativa que, permeada de lacunas por conta da sua criação fragmentária, que trata a realidade de forma conflitante, poderão preencher os vazios a partir da sua própria experiência concreta, de modo que o leitor vai produzir um sentido a partir dos não ditos que surgem durante a leitura do romance Figueiredo (2017),. ao escrever sobre o romance de Tapajós, em sua sumarização dos romances publicados durante a vigência do regime militar, afirma que o texto tem três fios narrativos: o relato da infância e juventude do autor desde a sua cidade natal, Belém (Pará), até sua ida para São Paulo, onde começou a participar ativamente do movimento estudantil; as movimentações de um grupo guerrilheiro na Amazônia e a repressão deste pelos militares; e, por fim, o núcleo principal, que é a história dos guerrilheiros urbanos e a vida, luta e morte de uma guerrilheira.…”