Etnodesenvolvimento e bem viver: concepções e implicações para políticas públicas

Abstract

Questionamentos radicais sobre as ideias vinculadas à noção de desenvolvimento, tais como, crescimento, progresso, reforma de mercado, extrativismo, aumento desmedido de consumo material individual, etc., confluem para desenvolvimentos alternativos ou alternativas à própria ideia de desenvolvimento. Diante disso, esse artigo discutiu as diferenças entre as concepções de etnodesenvolvimento e bem viver indígena em sua interface com as políticas públicas por meio de uma revisão narrativa de literatura. Os resultados apontam que a ideia de desenvolvimento tem se transformado desde a modernização e crescimento econômico para perspectivas mais críticas ou negadoras do paradigma capitalista de desenvolvimento. O etnodesenvolvimento, embora centralize a questão étnica, histórica e cultural nos processos de desenvolvimento, ainda o faz com a finalidade de eficiência econômica. Já o bem viver busca a plenitude e o equilíbrio entre os povos, a natureza e a metafísica, o que o coloca como uma alternativa ao desenvolvimento, uma vez que não se ampara na lógica judaico-cristã, antropocêntrica e racional-científica. Conclui-se que o etnodesenvolvimento, pela perspectiva indígena, parece ser menos interessante como projeto de desenvolvimento e que o bem viver, embora tenha sido reconhecido constitucionalmente na Bolívia e no Equador, tem implantação sempre conflituosa devido à colonização capitalista nos modos de pensar o tempo, o espaço, a economia, as relações sociais, a natureza, a sociedade e, por isso, as políticas públicas.

Sustainable Ethnodevelopment: a Scientiometric Study

“…Local development strategies, when implemented from top to bottom in traditional communities such as indigenous, have largely not raised living standards in their living environment, as stated by Silva and Filgueira (2020). Radical questions about the ideas linked to the notion of development, such as growth, progress, market reform, extractivism, excessive increase in individual material consumption, etc., converge into alternative or alternative developments to the very idea of development (SOUZA et al, 2021).…”

Políticas públicas indigenistas: dominação estatal

“…Nesse sentido, é de extrema importância que exista espaço para a participação dos indígenas nas políticas públicas a eles direcionadas, pois, somente assim será assegurada eficácia e melhorias para essa população (Guirau & Silva, 2013). Entende-se como participação, a compreensão de eficiênciamelhores resultados e o empoderamentopoder ou capacidade de um indivíduo ou comunidade em obter melhores condições de vida, o que direciona a escolha de lideranças capazes e responsáveis em comunicar os interesses como a busca pelo desenvolvimento do coletivo que representa (Ayala & Fehlauer, 2005;Souza et al, 2021 Sendo assim, a intervenção e a negociação de lideranças indígenas tornaram possível que certas pautas de políticas públicas fossem analisadas. Com isso, as questões indigenistas passaram a ser colocadas na agenda de desenvolvimento do governo (Costa e Silva, 2013).…”

Terra E Território Em Uma Análise Decolonial

“…A abordagem do "Bem Viver" surge no fim de 1990, promovido por três agentes fundamentais: movimentos sociais presentes na América Latina (principalmente o movimento indígena em contraposição ao neoliberalismo do fim do século XX); consonância entre estes movimentos e os ideais de alguns movimentos mundiais (sobretudo anti/alter mundiais e ambientais); e desapontamento coletivo pelo desenvolvimento (SOUZA, 2021). Nesse cenário, a temática do Bem Viver revela questionamentos à teoria clássica do modelo de desenvolvimento do Ocidente e evidencia possibilidades fundamentadas nos costumes indígenas, pautando o discernimento na logicidade de convívio nos sistemas de relações sociais.…”