O objetivo deste artigo é discutir como as práticas discursivas que alimentam um dispositivo, na acepção de Foucault, atuam na naturalização das desigualdades. Desenvolve-se a análise de um discurso aparentemente homogêneo da campanha e da ação solidária da empresa Açúcar Guarani, em material divulgado nas redes sociais em 2022, a propósito de nomes tradicionais de doces, considerados politicamente incorretos e ofensivos às chamadas minorias. Com base nos postulados revisitados da Análise do Discurso foucaultiana, cotejando textos verbais e não verbais da campanha, foi possível perceber como a heterogeneidade está presente de forma simultânea num dispositivo colonial e decolonial. A análise apontou ainda que é no discurso em que são conflagradas as contradições entre as práticas sociais. Para isso, no que diz respeito à mulher e à mulher negra, analisou-se também os movimentos de interdição dos dizeres, o politicamente correto e o lugar de fala como movimentos correlatos da noção de “liberdade de expressão”, amplamente divulgada em nosso século nos países do mundo ocidental.