Resumo: Neste artigo, propomos uma discussão sobre o lugar da literatura na construção do conhecimento. Tendo em mente o pressuposto de que o conhecimento científico deve ser compreendido como forma de conhecimento, mas não como o conhecimento por excelência, perguntamos se a literatura também poderia ser concebida como uma forma de conhecimento da realidade, ainda que esta não seja sua função nem mesmo o que a define como literatura. De modo que procuramos aqui problematizar a relação entre literatura, conhecimento e sociedade, a partir do materialismo cultural, tomando como estudo empírico a formação da literatura em Moçambique.Palavras-chave: literatura, conhecimento, Moçambique, materialismo cultural.Colocando a questão C omo sabemos, no final do século XX, ao lado dos estudos literários, tal como foram concebidos nas academias europeias, surgiram com vigor -e em contraposição -os estudos pós-coloniais voltados, entre outros aspectos, para uma reinterpretação da história narrada (e alçada à condição de história oficial) a partir daqueles que a vivenciaram na posição de "dominados", "subalternos", "colonizados". Desde então, o campo dos "estudos literários" passou a conviver com a "crítica pós-colonial" que se espraiou rapidamente no debate acadêmico, lançando um novo olhar sobre a literatura. No campo das análises das literaturas produzidas no continente africano, por exemplo, as abordagens pós-coloniais tornaram-se um ponto de inflexão obrigatório.Isso se explica, em parte, pelo fato daquela literatura ter sido produzida, em suas origens, como arma de combate que fortaleceu a luta de libertação do jugo do colonialismo, posteriormente, no período pós-independência, ter se tornado um poderoso instrumento de elaboração dos sentidos da nação e ainda pelo fato de que parte desta literatura tenha produzido um discurso crítico que problematiza não apenas o passado e a herança colonial, como ainda as contradições emergentes na nova ordem social (ver, entre outros,