Estudos Multiespécies: uma breve análise da teoria e de suas aplicações

Abstract

Este artigo pretende trazer uma análise dos estudos multiespécies, das teorias às aplicações. Essa literatura pressupõe que as ciências naturais estão longe de ser a única forma de conhecer as vidas de outras espécies. Desse modo, toma para si a observação através da imersão na vida de criaturas antes deixadas às margens dos estudos antropológicos - tais como animais, plantas e fungos - e preocupa-se em entender as relações construídas entre diferentes espécies que se entrelaçam dentro de um mesmo ambiente.

Decolonialidade e problemas ambientais contemporâneos

“…A antropologia fornece ainda grandes contribuições para o entendimento de toda a grandeza das relações dos povos tradicionais com os espaços que ocupam através dos chamados estudos multiespécie. Segundo Pereira (2018), estes se constituem através da multiplicidade de histórias e modos de vida que são construídos pelas infindáveis espécies da biodiversidade terráquea. Todas essas histórias se conectam de modo a garantir o equilíbrio ambiental, e, através de pressupostos teóricos das ciências sociais, bem como da imersão etnográfica nesses diferentes modos de vida, essa nova corrente de pensamento busca o entendimento sobre as diferentes relações construídas entre toda a biodiversidade de um dado ecossistema.…”

Experimentações pedagógicas com “Ervas daninhas”

“…E tais indagações vêm surgindo junto a um entrelaçamento de abordagens filosóficas e antropológicas que têm buscado criar narrativas outras com relação a questões ambientais e à necessidade de se pensar em novos modos de existência (SAMPAIO, 2019). Uma dessas abordagens é a dos Estudos Multiespécies, um campo que se origina da Antropologia e que promove uma forte articulação entre estudos sobre animais, plantas, etnologia indígena e antropologia da ciência e tecnologia (PEREIRA, 2018). As pesquisas desenvolvidas a partir dessa perspectiva mostram que as Ciências Naturais não são a única forma de conhecer as vidas de outras espécies, de forma que o que importa é a observação através da imersão na vida de seres por vezes marginalizados dentro dos estudos antropológicos (PEREIRA, 2018).…”

“…Uma dessas abordagens é a dos Estudos Multiespécies, um campo que se origina da Antropologia e que promove uma forte articulação entre estudos sobre animais, plantas, etnologia indígena e antropologia da ciência e tecnologia (PEREIRA, 2018). As pesquisas desenvolvidas a partir dessa perspectiva mostram que as Ciências Naturais não são a única forma de conhecer as vidas de outras espécies, de forma que o que importa é a observação através da imersão na vida de seres por vezes marginalizados dentro dos estudos antropológicos (PEREIRA, 2018). Há, portanto, para os Estudos Multiespécies, a necessidade de se enxergar além do dualismo cultura e natureza, compreendendo os organismos sem desconectá-los de seus ambientes de origem ( VAN DOOREN et al, 2016).…”

“…Isso porque se considera o organismo-em-seu-ambiente como unidade fundamental para sobrevivência e, ainda, que a vida não surge de forma isolada, ocorrendo trocas o tempo inteiro, através das quais os organismos permanecem enovelados em profundas e emaranhadas histórias ( VAN DOOREN et al, 2016). Essas pesquisas têm se concentrado em derrubar o muro existente entre os objetos de estudo das ciências humanas e biológicas, em um movimento de perceber o mundo e as relações construídas entre indivíduos de espécies biológicas diferentes, trazendo relatos experienciais de mundos distintos para estar atento ao que acontece de forma mais simétrica (PEREIRA, 2018).…”

Abelhas melíferas compondo paisagens em ruínas: o que é possível (re)existir em uma educação no Antropoceno?

“…O ensino como rizoma que entrelaçam saberes científicos e indígenas que ensinam pelo afeto e pelo respeito. Alimentar o pensamento que o humano vive sozinho de forma autônoma pode incentivar o pensamento de superioridade, de controle da natureza, bem como de ideologias autocráticas e militaristas (PEREIRA, 2018). Cristine Takuá (2019) conta como a educação para os indígenas acontece pela relação entre humanos e nãohumanos, em sua fala-escrita, ela conta que as crianças da escola indígena conhecem mais de 30 cantos de abelhas, embora nunca as tenha visto porque hoje só restam 8 espécies de abelha.…”