Estudo da utilização de metilfenidato em uma unidade básica de saúde

Abstract

Introdução: Considerando o elevado consumo de metilfenidato, fármaco psicoestimulante empregado no tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, verifica-se a necessidade de monitoramento da sua utilização. Objetivo: Este trabalho tem como objetivo descrever a utilização de metilfenidato em uma Unidade Básica de Saúde de São José do Rio Preto/SP, Brasil. Casuística e Métodos: Trata-se de um estudo descritivo exploratório. Foram analisadas as notificações de receita de metilfenidato de 99 pacientes no período de janeiro a setembro de 2017. A coleta dos dados demográficos, clínicos e farmacológicos, foi realizada através do sistema informatizado do Componente Básico da Assistência Farmacêutica da farmácia da unidade. Resultados: A idade dos usuários de metilenidato variou de cinco a 44 anos de idade. Houve predomínio do sexo masculino (78%). A maioria das notificações era do setor privado (59%). Identificou-se prescrição por seis diferentes especialidades médicas, sendo que a maior parte foi prescrita pela neurologia (58%), seguida pela neurologia pediátrica (23%). Quanto à dosagem do metilfenidato, a concentração diária mais frequente foi de 20 mg em 49% das notificações. A maior dosagem prescrita foi de 60 mg para um paciente adulto. A maior parte dos pacientes em uso de metilfenidato eram crianças entre cinco e 12 anos de idade (64%), e destes, 66% eram do sexo masculino. Conclusão: Verifica-se predomínio da prescrição do metilfenidato para crianças do sexo masculino. As dosagens variam entre 10 e 60 mg. A maior parte das prescrições foi emitida por neurologistas e psiquiatras de estabelecimentos privados, entretanto, identificou-se a prescrição por profissionais não especializados em saúde mental.

Análise das notificações de receitas de medicamentos sujeitos ao controle especial na cidade de Cascavel – Paraná

“…Seu uso indiscriminado também é uma preocupação evidenciada pela comunidade científica, sobretudo em grupos de estudantes, que buscam potencializar o desempenho acadêmico e acabam fazendo o uso desse medicamento de forma indiscriminada (Cerqueira;Cruz Junior, 2021). Além dessa patologia, esse fármaco também pode ser utilizado em casos específicos de narcolepsia, depressão, obesidade e outras patologias cognitivas (Lima et al, 2019). De modo geral, diversos estudos salientam que a utilização do metilfenidato de forma não prescrita ou sem supervisão médica levanta dúvidas, pois as pesquisas conduzidas não encontraram provas consistentes de que o remédio ofereça benefícios no funcionamento do sistema nervoso central (SNC) em indivíduos sem problemas de saúde específicos (Rodrigues et al, 2022;Cesar et al, 2012).…”

“…O estudo de Oliveira et al ( 2017) também demonstrou que, dentre as especialidades que mais receitaram os medicamentos Metilfenidato, Lisdexanfetamina e Modafilina, estavam neurologistas seguido dos psiquiatras e pediatras, corroborando com os dados obtidos pela pesquisa. Lima et al (2019) também tiveram os neurologistas e psiquiatras no topo de suas análises referentes a especialidade dos prescritores de medicamentos que necessitam receituário tipo A, evidenciando a presença significativa dos dois medicamentos mais citados pela pesquisa também.…”

“…Contudo, é válido destacar que, muitas vezes, a prescrição destes medicamentos não é necessariamente voltada para o tratamento do TDAH a partir de um diagnóstico concreto, mas sim uma forma de estimular o sistema nervoso central com o intuito de aumentar a capacidade de se concentrar e de absorver informações, sendo seu uso muito prevalente entre estudantes universitários, pré-vestibulandos, concurseiros, entre outros casos semelhantes, o que acarreta na utilização indiscriminada desses fármacos, por conta dessas situações específicas (Cerqueira et al, 2021;Lima et al, 2019;Cesar et al, 2012;Bilitardo et al, 2017).…”

Global Mental Health and Pharmacology: The Case of Attention Deficit and Hyperactivity Disorders in Brazil

“…On the other hand, as recent studies have shown, there has also been an expressive increase in the use of methylphenidate in Brazil unrelated to the diagnosis of ADHD. Such studies have observed that the growth is associated with the fact that prescriptions are largely done in the private sector (for middleand upper classes) and to the off-label use for cognitive, physical, sexual and emotional enhancement also related to those classes (Coutinho et al, 2017;Esher and Coutinho, 2017;Lima et al, 2019;Castro, 2020).…”

“…The use of medication unrelated to medical diagnoses has been described as "pharmaceuticalization" and aims to enhance performance. There is still not enough data to understand the extent and impact of methylphenidate pharmaceuticalization in the country, but several scholars insist that it is a social and ethical problem that requires further investigation and action by the regulatory agencies of drug dispensation (Coutinho et al, 2017;Esher and Coutinho, 2017;Lima et al, 2019;Castro, 2020). Both phenomena, medicalization of ADHD and off-label use of methylphenidate, highlight the challenges imposed by the globalization of ADHD and the importance of ethically informed and ecologically sensitive clinical practices (Singh et al, 2013).…”