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Minha opção pelas Ciências Sociais não foi uma decisão fácil, tendo em vista o contexto -mais imediato ou mais amplo -em que me encontrava ao final do colegial, em meados da década de 1970. Sempre apreciara as disciplinas ligadas às humanidades, mas havia uma certa pressão social e também familiar para engajar-me ou na engenharia ou na medicina, já que a terceira possibilidade do famoso "tripé" da época, o direito, encontrava-se então saturada no mercado de trabalho. Uma atmosfera difícil, marcada pela ditadura militar e pelo autoritarismo, somada à falta de opções culturais -nasci em São Paulo e vivi até os 10 anos na Vila Prudente, na Zona Leste, e residia então, com minha família, em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo -não favorecia maiores questionamentos.Paralelamente, quase ao final daquela década, configurava-se um contexto sociocultural e político mais estimulante, com ampliação das liberdades democráticas, ressurgimento dos movimentos sociais e operário, retomada do movimento estudantil, somados à efervescência expressa nos shows de música popular, no teatro, no cinema.Tudo isso se dava num momento em que eu retomava gradativamente minha relação com a cidade de São Paulo 3 , cuja atmosfera eu desejava, de alguma forma, tomar parte.Pude assim adquirir, dentro dos limites da minha condição de juventude, uma consciência mais clara em termos sociais e existenciais, a partir do contato com uma realidade nova e instigante. Foi possível, desse modo, amadurecer um projeto de atuar de uma forma mais engajada e profissional na sociedade, levando-me, após opções anteriores interrompidas, a prestar vestibular em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo. Sobreveio, na faculdade, um aprofundamento nos estudos, para uma compreensão mais sistemática da realidade social. Tive nesse sentido a oportunidade de freqüentar muitas disciplinas cuja formação foi de inestimável valor até hoje, 1 Agradeço a Cornelia Eckert pelo convite para participar do II Colóquio "Individualismo, Sociedade, Memória" (dez./2010, PPGAS/IFCH/UFRGS) e escrever o presente artigo. 2 Universidade de São Paulo, Brasil. 3 Que adquiria então um forte significado de metrópole cultural. Sobre o conceito e para uma abordagem sobre os anos 1950 (mais recuados com relação à presente abordagem), ver Arruda (2001).
Minha opção pelas Ciências Sociais não foi uma decisão fácil, tendo em vista o contexto -mais imediato ou mais amplo -em que me encontrava ao final do colegial, em meados da década de 1970. Sempre apreciara as disciplinas ligadas às humanidades, mas havia uma certa pressão social e também familiar para engajar-me ou na engenharia ou na medicina, já que a terceira possibilidade do famoso "tripé" da época, o direito, encontrava-se então saturada no mercado de trabalho. Uma atmosfera difícil, marcada pela ditadura militar e pelo autoritarismo, somada à falta de opções culturais -nasci em São Paulo e vivi até os 10 anos na Vila Prudente, na Zona Leste, e residia então, com minha família, em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo -não favorecia maiores questionamentos.Paralelamente, quase ao final daquela década, configurava-se um contexto sociocultural e político mais estimulante, com ampliação das liberdades democráticas, ressurgimento dos movimentos sociais e operário, retomada do movimento estudantil, somados à efervescência expressa nos shows de música popular, no teatro, no cinema.Tudo isso se dava num momento em que eu retomava gradativamente minha relação com a cidade de São Paulo 3 , cuja atmosfera eu desejava, de alguma forma, tomar parte.Pude assim adquirir, dentro dos limites da minha condição de juventude, uma consciência mais clara em termos sociais e existenciais, a partir do contato com uma realidade nova e instigante. Foi possível, desse modo, amadurecer um projeto de atuar de uma forma mais engajada e profissional na sociedade, levando-me, após opções anteriores interrompidas, a prestar vestibular em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo. Sobreveio, na faculdade, um aprofundamento nos estudos, para uma compreensão mais sistemática da realidade social. Tive nesse sentido a oportunidade de freqüentar muitas disciplinas cuja formação foi de inestimável valor até hoje, 1 Agradeço a Cornelia Eckert pelo convite para participar do II Colóquio "Individualismo, Sociedade, Memória" (dez./2010, PPGAS/IFCH/UFRGS) e escrever o presente artigo. 2 Universidade de São Paulo, Brasil. 3 Que adquiria então um forte significado de metrópole cultural. Sobre o conceito e para uma abordagem sobre os anos 1950 (mais recuados com relação à presente abordagem), ver Arruda (2001).
A guisa de introduçãoQuando, em 2010, recebi a solicitação de Cornelia Eckert e Ana Rocha para falar sobre a minha trajetória pessoal e acadêmica no "II Colóquio Individualismo, Sociabilidade e Memória", juntamente com dois colegas antropólogos, confesso que me surpreendi com o convite. O espanto advinha do fato de que, pertencendo eu a uma geração mais nova de antropólogos brasileiros, considerava a minha trajetória pessoal dentro do campo da Antropologia ainda muito recente e, de certa forma, particularnão só porque minha, obviamente, mas por não ser oriundo das Ciências Sociaissomandose a isto o fato de que a sua construção envolve um grande esforço pessoale emocional -para lidar com a timidez que trago comigo desde a infância. Percebo que a minha experiência junto à disciplina figura no cenário acadêmico como uma trajetória profissional em consolidação entre os meus pares, principalmente, se pensá-la em relação às gerações mais velhas de antropólogos, entre as quais estão alguns que admiro muito. Ora, as duas pessoas que me convidavam a falar para estudantes de pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) -, no meu ponto de vista pessoal e profissional, se destacam entre aqueles intelectuais que considero inspiradores no cenário da Antropologia realizada no país. O desafio proposto por ambas, desta forma, colocava a necessidade de ordenar objetivamente as minhas memórias pessoais acerca do que vivi diante do que experiencio no contemporâneo como indivíduo que optou por investir na vida acadêmica enquanto um projeto (Velho, 1994), tendo, por isso, que avaliar subjetivamente a minha trajetória biográfica diante do campo de possibilidades e das escolhas que se apresentaram ao longo do percurso trilhado por mim. Ambas me levavam a pensar sobre o processo de construção de uma carreira acadêmica que se encontra em andamento, o que implicava ponderar acerca das instituições por onde transitei como estudante de graduação e de pós-graduação, professor e pesquisador ao longo dos 26 anos em que me encontro envolvido com o mundo acadêmico, considerando que entre 1984 e 1990 realizei a graduação em 1 Universidade Federal do Pará, Brasil.
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