Envelhecer em contexto prisional

Abstract

ResumoO significativo aumento do número de pessoas idosas a nível mundial e em Portugal coloca aos nossos destinos coletivos novas preocupações e desafios. No âmbito desta investigação, definiu-se como objetivo a compreensão dos diferentes processos de envelhecimento dos reclusos considerados idosos, sendo analisados o quotidiano da população reclusa mais velha, o impacto dessa reclusão no seu processo de envelhecimento (nomeadamente na construção de estratégias de adaptação e reintegração) e suas perspectivas futuras de reinserção social. Este estudo, sustentado numa metodologia qualitativa, aplicou a análise de conteúdo a 25 entrevistas semidiretivas realizadas com indivíduos reclusos do sexo masculino com idade igual ou superior a 65 anos e que cumpriam pena de prisão em diferentes cadeias portuguesas que albergam homens. Conclui-se que, para os reclusos considerados idosos em contexto prisional, a percepção de envelhecer está ligada a sentimentos de conotação negativa, de inutilidade, de desespero e de perdas constantes. Essas pessoas investem, assim, todos os seus sentidos, capacidades intelectuais, sentimentos, ideias e estratégias adaptativas num processo de reformulação identitária, em que seu envelhecimento se associa a percepções de determinadas incapacidades que se evidenciam mais facilmente e se agravam em contexto prisional. AbstractThe significant increase in the number of elderly worldwide and Portugal puts our collective destinies new concerns and challenges. Within this research, we defined the purpose to understand the different aging processes of inmates considered old and analyzed the daily lives of older inmates, the impact of imprisonment in the aging process (notably construction of adaptation strategies and reintegration) and its future prospects probation. This study supported a qualitative methodology, applied to the 25 semi-directive interviews content analysis performed with male inmates individuals aged over 65 years and serving sentences of imprisonment in different Portuguese

Expectativas Do Processo De Reintegração Social Da População Idosa

“…O presente estudo teve como objetivo geral apresentar e explorar as perceções e expectativas da população idosa que se encontra a cumprir pena de prisão quanto à sua reintegração social após o término da medida. Este estudo permitiu explorar várias questões relacionadas com as vivências dos reclusos idosos em contexto prisional destacando o facto de os/as reclusos/as idosos/as percecionarem que a entrada ou reentrada na prisão contribui de forma negativa no seu processo de envelhecimento (Santos & Nogueira, 2014;Oliveira, Costa & Medeiros, 2013). Neste estudo concluiu-se que o momento do cumprimento de pena assenta em sentimentos de tristeza, consternação e frustração por parte dos reclusos idosos.…”

“…Para esta franja de população reclusa, estudos nacionais, existentes nesta matéria, salientam que o ambiente prisional carece de projetos e ações que promovam um processo de envelhecimento, sem penalizações pelo facto de ser vivenciado em reclusão. Isso reflete-se, na total ausência de atividades e programas direcionados, especificamente para este grupo de reclusos e no forte condicionamento de acesso a outras atividades tal como a ocupação laboral, que conduzem à vivência do processo de envelhecimento em reclusão de forma mais penosa e negativa (Ferreira, 2018;Silva, 2018;Santos & Nogueira, 2015). RIAGE -Revista Ibero-Americana da Gerontologia -Número 5 | junho de 2024 Esta tendência é igualmente reforçada por outros trabalhos académicos que evidenciam que ao nível de auxílio e respostas para o trabalho penitenciário com os reclusos idosos, muito ainda há a perspetivar, inovar e a pôr em prática.…”

Idosos Privados De Liberdade: Expectativas Sobre a Vida Após Cumprimento Da Pena

“…Ao mesmo tempo, uma das consequências de um longo período de privação de liberdade é a fragilização das redes familiares. O passar dos anos reduz a frequência de visitas, o contato com o mundo exterior e o apoio familiar, fundamentais não só emocionalmente, mas também materialmente (insumos levados para dentro da prisão) (Santos & Nogueira, 2015). Nesse sentido, o DSC "Ajudei muita gente e hoje eu não recebo uma carta."…”