Machado de Assis é um escritor que dispensa apresentações, pois está nas "dobras da memória" 1 , graças à potência de muitas de suas obras, que se tornaram clássicas. Sonia Netto Salomão declara: "Machado de Assis é parte do cânone ocidental, hoje" (p. 9). Destaquei o advérbio "hoje" porque a inserção de Machado no cânone ocidental acontece tardiamente. Contudo, essa situação foi sendo revertida paulatinamente e se deu no final do século XX e início do século XXI quando, por exemplo, Machado passa a figurar na lista de Harold Bloom dos 100 autores mais criativos da história da literatura. 2 Apesar disso, ao ser indagado sobre a influência literária de Machado de Assis para além das fronteiras lusófonas, o crítico Kenneth David Jackson diz que "está tendo mais impacto, mas avança devagar", pois falta "a difusão da nova crítica, falta incorporar Machado no cânone da literatura comparada, falta de maneira geral ler Machado". 3 Mesmo assim, esse "mestre da ficção" tem sido revisitado de diferentes formas, porque, além da reedição constante das suas obras, soma uma enorme 1 Italo Calvino diz que "os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem como inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual" (CALVINO, 1993, p. 10-11).ANDRÉIA GUERINI | Machado de Assis e as...
Andréia Guerinié Professora Titular do Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras e da Pós-Graduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pesquisadora do CNPq. Tem atividades de pesquisa, docência e extensão na área de Letras, sobretudo em Estudos da Tradução, Estudos Literários, Estudos Comparados (Literaturas Brasileiras e Portuguesa e Literatura Italiana). Foi professora visitante na Università degli Studi di Padova/Itália (2009-2010) e na Universidade de Coimbra/Portugal (2017-2018). É editora da revista Cadernos de Tradução e dos números de Estudos Literários da Revista da Anpoll. É coordenadora da Pós-graduação em Estudos da Tradução e coordenadora do projeto de internacionalização Capes/PrInt/UFSC "Tradução, tradição e inovação". É autora de artigos, capítulos, resenhas e traduções.