Tributo a uma revolucionáriaVenho homenagear a ousadia desenfreada de uma desbravadora de quem estudiosas e militantes feministas somos todas direta ou indiretamente tributárias: Heleieth Saffioti.Penso que é oportuno não apenas reconhecer seu papel decisivo na consolidação do campo dos estudos feministas no Brasil, mas ressaltar sua contribuição para a renovação das ciências sociais.Acho louvável e apropriado que os mais jovens continuem reverenciando uma mulher que por 50 anos pensou, escreveu, formou gerações, dialogou, brigou, alimentada e alimentando o movimento de mulheres no Brasil. Uma revolucionária na teoria e na prática. Heleieth Saffioti foi um caso raro, o exemplo difícil de encontrar, de intelectual orgânica, creio que tinha noção da carga de deveres e responsabilidades que isso representava; e que almejou e se comprouve nesse lugar espinhoso.Fico emocionada ao lembrar de meu último encontro com Heleieth, em Recife, em 2009, num seminário do SOS Corpo, onde apresentou reflexões suscitadas por suas mais recentes pesquisas. 2 Conheci Heleieth, jovem, recém-formada, no início da década de 1960, quando entrei no curso de Ciências Sociais da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São 1 Uma primeira versão deste texto foi apresentada no XXX International Congress of the Latin American Studies Association (LASA), GEN 7941, San Francisco, Califórnia, em maio de 2012.2 A apresentação resultou no artigo "Quantos sexos? Quantos gêneros? Unissexo/unigênero", publicado posteriormente em Cadernos de Crítica Feminista, 3(2), dez. 2009.