Considero a existência da Revista Estudos Feministas (com a qual estive envolvida, em maior ou menor grau, ao longo dos últimos anos), um foro, espaço público de reflexão e debate -uma conquista que necessita ser constantemente reassegurada e que merece todo o empenho em sua preservação.Os sucessos são inúmeros mas eu não gostaria de fazer uma rememoração meramente laudatória da trajetória da Estudos Feministas, pretendo tratar da criação da Revista e de seu contexto tanto o imediato, quanto aquele um pouco mais remoto e discutir alguns impasses que enfrentou na sua fase carioca (1991/99 ou stritu sensu 1992/ 98 se nos ativermos aos marcos formais) 1 que me parecem úteis para pensar a situação atual e o futuro das publicações feministas.A idéia da criação de uma revista surgiu num seminário promovido pela Fundação Carlos Chagas que ficou conhecido como Encontro de São Roque porque foi realizado naquela localidade, no interior de São Paulo, em novembro de 1990. O seminário Estudos sobre a Mulher no Brasil: avaliação e perspectivas como o nome indica visava um balanço crítico do estado da produção cientifica brasileira sobre as temáticas mulher e gênero. As contribuições ao seminário podem ser encontradas no livro Uma questão de gênero 2 . É interessante observar que são utilizados tanto o termo estudos sobre a (no singular) mulher, privilegiado no título do encontro, como gênero, preferido no título da publicação, e que este no final da década de 80', ainda tem sabor de inovação. Lia Zanotta Machado, na introdução dessa coletânea, assinala que o Encontro de São Roque veio a se constituir em um marco de passagem na designação estudos da mulher para estudos de gênero. 3Cabe ressaltar que encontros tem essa potencialidade de se transformar em marcos na medida que cristalizam ou sinalizam a expressão de interesses coletivos, ou dito de outro modo ,constituem momentos privilegiados com enorme potencialidade de aglutinar aspirações e demandas que se encontravam dispersas, além de construir canais de expressão para elas. Para reforçar esta idéia, talvez seja interessante lembrar que o ano de 1978 (eleições e consolidação da abertura política) foi considerado um divisor de
Tributo a uma revolucionáriaVenho homenagear a ousadia desenfreada de uma desbravadora de quem estudiosas e militantes feministas somos todas direta ou indiretamente tributárias: Heleieth Saffioti.Penso que é oportuno não apenas reconhecer seu papel decisivo na consolidação do campo dos estudos feministas no Brasil, mas ressaltar sua contribuição para a renovação das ciências sociais.Acho louvável e apropriado que os mais jovens continuem reverenciando uma mulher que por 50 anos pensou, escreveu, formou gerações, dialogou, brigou, alimentada e alimentando o movimento de mulheres no Brasil. Uma revolucionária na teoria e na prática. Heleieth Saffioti foi um caso raro, o exemplo difícil de encontrar, de intelectual orgânica, creio que tinha noção da carga de deveres e responsabilidades que isso representava; e que almejou e se comprouve nesse lugar espinhoso.Fico emocionada ao lembrar de meu último encontro com Heleieth, em Recife, em 2009, num seminário do SOS Corpo, onde apresentou reflexões suscitadas por suas mais recentes pesquisas. 2 Conheci Heleieth, jovem, recém-formada, no início da década de 1960, quando entrei no curso de Ciências Sociais da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São 1 Uma primeira versão deste texto foi apresentada no XXX International Congress of the Latin American Studies Association (LASA), GEN 7941, San Francisco, Califórnia, em maio de 2012.2 A apresentação resultou no artigo "Quantos sexos? Quantos gêneros? Unissexo/unigênero", publicado posteriormente em Cadernos de Crítica Feminista, 3(2), dez. 2009.
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