Entre Sentidos Do Trabalho, Prazer E Sofrimento: Um Estudo Baseado Na Perspectiva De Jovens Trabalhadores-Estudantes

Abstract

A dinâmica nas organizações tem sofrido significativas transformações, podendo modificar o sentido atribuído ao trabalho e desencadear vivências de prazer-sofrimento, considerando a organização do trabalho e das tarefas. Entre os grupos de trabalhadores mais sensíveis a essas mudanças estão os jovens, público que usualmente se submete a atividades precárias e percebem o estudo como sendo um investimento que lhes resultará em melhores condições de trabalho. Assim, o objetivo desta pesquisa consiste em descrever os sentidos atribuídos ao trabalho e às vivências de prazer e sofrimento na percepção de jovens trabalhadores-estudantes. Participaram do estudo 25 jovens, alunos de uma Instituição Pública de Ensino Superior da região Sudeste do Estado de Minas Gerais (MG). Os dados foram analisados por meio da análise de conteúdo. Verificou-se predominância do sentido de trabalho enquanto atividade remunerada. O prazer envolve as relações socioprofissionais, condições de trabalho, realização profissional e liberdade de expressão. Por sua vez, o sofrimento está associado às relações socioprofissionais bem como as condições de trabalho, falta de reconhecimento e exigências físicas, como ficar em pé por muito tempo e realizar atividades que demandam esforço físico demasiado, e psicológicas, como ser submetido a constrangimentos e ter controle das emoções. Os resultados sugerem que pode haver ausência de prazer explicito no trabalho, mesmo quando este tem sentido.

Os Sentidos do Trabalho para Trabalhadores Jovens

“…A pesquisadora canadense Stelle Morin se baseou nos resultados de pesquisas do grupo MOW (1987) e de autores como Hackman e Lawler (1971) e Hackman e Oldham (1975, 1976), e seus estudos (Irigaray et al, 2019;Morin, 2001Morin, , 2003Morin, , 2008Morin & Cherré, 1999;Morin et al, 2007;Vilas-Boas & Morin, 2015) a consagram como uma das principais pesquisadoras sobre sentido do trabalho no Brasil (Costa, 2021;Costa et al, 2020). Para a autora, os sentidos do trabalho são representações que o sujeito tem em relação à atividade que realiza e o valor que atribui a ela (Morin, 2008).…”

“…A escolha deste grupo considera o fato de que os jovens possuem características e dinâmicas de trabalho diferentes daquelas dos demais grupos da sociedade (Paiva et al, 2018) e da necessidade de aprofundamento sobre a compreensão dos sentidos do trabalho (Graebin et al, 2019). Além disso, é possível contribuir para avanços teóricos-empíricos e desenvolvimentos sobre o tema (Costa, 2021;Costa et al, 2020).…”

“…As discussões sobre o tema têm ganhado espaço na literatura sobre gestão (Costa et al, 2020), contemplando trabalhadores "tradicionais", a exemplo de professores (Irigaray et al, 2019), gerentes de bancos (Silva et al, 2019), profissionais da enfermagem (Carminatti et al, 2021), entre outras possibilidades (Costa, 2021). É possível, também, discutir o tema considerando sujeitos invisibilizados, que desempenham "trabalhos sujos", como prostitutas, trabalhadores de limpeza, saneamento e do/no sistema prisional (Costa, 2021), e se distanciam das concepções sociais amplamente aceitas quanto a uma fórmula única de sucesso na vida (Maciel & Grillo, 2009).…”

“…Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são jovens os indivíduos com idade entre 15 e 24 anos (Fundo de População das Nações Unidas [UNFPA], 2010). Trata-se de um grupo cuja mão de obra é barata, quando comparada a outros trabalhadores (Yates, 2017); usualmente estão mais expostos a situações de violência e agressões (Tucker & Loughlin, 2006), e são mais propensos a executar tarefas rotineiras e esvaziadas de sentido (Costa et al, 2020). Entre os jovens trabalhadores há um grupo mais específico -os aprendizes -que são inseridos nas organizações por meio da Lei da Aprendizagem (Decreto nº 11.061, 2022).…”

“…Para responder a esse questionamento, foi realizado um estudo qualitativo, cujos dados foram coletados por meio de entrevistas e submetidos a análise de conteúdo. Do ponto de vista teórico, a originalidade da proposta preenche uma lacuna da literatura sobre o tema identificada a partir da leitura de estudos anteriores (Costa, 2021;Costa et al, 2020;Khan et al, 2021;Morin, 2001Morin, , 2008Robichau & Sandberg, 2022;Rosso et al, 2010). Desta forma, o estudo avança com as discussões sobre os sentidos do trabalho e, ainda, coloca em pauta os jovens aprendizes e suas peculiaridades (Graebin et al, 2019;Paiva et al, 2018).…”