Ensino de ciências e os desafios do século XXI: entre a crítica e a confiança na ciência

Abstract

O presente ensaio reflete sobre o papel do ensino de ciências frente aos desafios colocados pelas diferentes questões sociocientíficas que permeiam a sociedade contemporânea. Na medida em que a ciência desempenha importante função na busca de soluções para tais questões, como as crises socioambientais e de saúde pública, é também imprescindível que o ensino de ciências fomente um entendimento que possibilite avaliar informações científicas e distingui-las daquelas que podemos chamar de pseudocientíficas. Contudo, na busca por fomentar essa capacidade avaliativa no aluno, o ensino de ciências corre o risco de incorrer numa valorização excessiva do ideal crítico que visa a autonomia intelectual do aluno, muitas vezes expresso num ceticismo que elege a dúvida pela dúvida. Neste ensaio, problematizamos algumas consequências indesejáveis dessa postura, entre as quais está a perda de confiança na própria ciência. Para tanto, propomos reflexões que: (1) orientam o ensino de ciências para uma confiança na ciência, sem perder a criticidade com relação ao fazer científico; (2) problematizam a justificativa de uma educação científica voltada exclusivamente para a autonomia intelectual do educando que elege a dúvida e o ceticismo como objetivos de ensino. Nessa discussão acentuamos a importância de uma “confiança equilibrada” em relação à ciência, destacando a confiança como elemento complementar ao exercício da dúvida e da crítica. Ao final, apresentamos algumas reflexões e possíveis desdobramentos dessa temática para o contexto da sala de aula e da educação científica.

Não Tem Saída Fácil: Tensão Entre Autonomia Epistêmica e Confiança na Ciência Como Caminho Para a Educação em Ciências Contemporânea

“…Para Junges & Espinosa (2020), alguns cientistas nos alertaram sobre o problema do coronavírus, e tiveram suas considerações muitas vezes relativizadas. Da mesma forma ocorre uma mobilização da comunidade científica para alertar sobre outras questões sociocientíficas, como a mutação climática antropogênica.…”

“…Uma alternativa presente na literatura é que a Educação em Ciências contemporânea deveria proporcionar aos alunos uma capacidade de diferenciar entre uma ciência emergente e uma ciência já estabelecida, assim como também diferenciar uma opinião ou argumento de um único especialista em relação ao de uma comunidade científica (Junges & Espinosa, 2020). Um exemplo de como mediar entre essas duas perspectivas, quais sejam, privilegiando a autonomia ou a confiança, é a de formar um cidadão informado cientificamente.…”

Desafios e possibilidades para a Educação em Ciências em tempos de crise civilizatória: repensando os atuais caminhos

“…Nesse sentido, é pertinente refletir sobre o ensino de ciências na atualidade, sobretudo no combate aos desafios que surgiram (PARRAT-DAYAN, 2017;JUNGES;ESPINOSA, 2020;REIS, 2021;BRITTO;MELLO, 2022). Diante de tal realidade, algumas inquietações e questões nos são colocadas: Quais são os desafios para o ensino de ciências demandados pela sociedade atual?…”

Algumas Percepções De Estudantes Do Ensino Médio Sobre Ciências, Pseudociência E Movimentos Anticientíficos

“…Para responder a estas questões, inicialmente foram feitos levantamentos bibliográficos a respeito dos temas: pensamento e metodologia científica, natureza da ciência no ensino de ciências, investigação no ensino de ciências, pseudociências e movimentos anticientíficos. Dessa forma, além de tentar compreender as concepções dos estudantes sobre a produção e validação do conhecimento científico, nosso trabalho também tem um caráter de revisão bibliográfica, pois parte do nosso objetivo é apresentar e discutir essas ideias avessas à ciência em contextos que estão em voga, para que professores das redes pública e privada se iniciem nesses temas que aparecem com cada vez mais frequência dentro de sala de aula (Buscatti Jr., 2020;Junges & Espinosa, 2020;Vilela & Selles, 2020).…”