Ensino de ciências e biologia e o cenário de restauração conservadora no Brasil: inquietações e reflexões CONSERVADORA NO BRASIL: INQUIETAÇÕES E REFLEXÕES

Abstract

O presente artigo aciona o conceito de restauração conservadora elaborado por Michael Apple (2001; 2015; 2017) para refletir sobre os rumos das políticas curriculares que interpelam as disciplinas escolares Ciências e Biologia na atualidade. Aproximando-nos de tensões que são fruto das históricas disputas entre o público e o privado na educação brasileira, debatemos incursões recentes do conservadorismo sobre os currículos dessas disciplinas. Assim, apresentamos e discutimos tentativas de constrangimento ao ensino de determinadas temáticas que são atravessadas por controvérsias socioculturais: evolução biológica; corpo humano, saúde e diferença; diversidade étnico-racial. Por fim, também sinalizamos severas ameaças aos princípios democráticos que regem a educação do país.

Negacionismo científico no currículo de Biologia do Novo Ensino Médiodo Estado de Minas Gerais>:

“…Como agravante, desde os anos 2000, tais grupos refinaram seus modos de se articularem politicamente e conquistaram maior espaço nos poderes executivo, legislativo e judiciário. Isso tem favorecido diversos agenciamentos em prol de suas visões religiosas de mundo na formulação, implementação e avaliação das políticas públicas e vêm disputando espaço, ao mesmo tempo que estabelecendo alianças com grupos explicitamente ligados ao empresariado, e em oposição a resultados de pesquisa educacional (BORBA; ANDRADE; SELLES, 2019;TEIXEIRA;HENRIQUES, 2022).…”

Entre tensões, resistência e inovação

“…Não estipular na BNCC que as discussões sobre gênero e sexualidade sejam parte do conteúdo obrigatório da Educação Básica, além de materializar o conflito de grupos pelo controle do currículo, retira parte do respaldo legal de docentes e escolas que entendam a necessidade de abordar esse conteúdo, além de esvaziar a sua importância e legitimidade. (BORBA;ANDRADE;SELLES, 2019, p. 154) Dessa forma, consideramos adequado trabalhar no 8 o ano as habilidades relacionadas ao tema sexualidade, incluindo a compreensão acerca dos mecanismos reprodutivos, das transformações que ocorrem na puberdade, das IST, métodos contraceptivos e das múltiplas dimensões da sexualidade humana. No entanto, consideramos que estas devem ser trabalhadas de maneira transversal e pelas diferentes disciplinas ao longo da Educação Básica, por meio de abordagens adequadas a cada faixa etária, conforme preconizavam os PCN.…”

Formar para educar em tempos de neoconservadorismo: um olhar sobre a formação de professores de Ciências e Biologia

“…Nesse contexto, insere-se a importância da educação científica e do ensino de Ciências e Biologia. Ao abordar temas como gênero e sexualidade humana e evolução e origem da vida, as disciplinas Ciências e Biologia apresentam grande potencial de conflito com ideais conservadores, especialmente com aqueles religiosamente inspirados (Borba;Andrade;Selles, 2019). Tal tensão pode assumir formas veladas (Teixeira, 2016) ou adotar discursos de defesa da presença da religião nos currículos escolares como um dispositivo para o resgate dos valores morais entre os jovens ou como um antídoto para a crise social, atribuída por seus autores à ausência de Deus (Cunha, 2014).…”