IntroduçãoA palavra "ética" vem do grego ethos, que significa "morada; lugar onde vivemos". Mais tarde, ela passou a significar o "caráter", o "modo de ser" que uma pessoa ou grupo adquire ao longo da vida. Diz respeito aos costumes, condutas, regras de comportamento, modo de ser, como resultado de se pôr em prática determinados costumes ou hábitos considerados bons (FORTES;ZOBOLI, 2008).A ética da saúde, enraizada no terreno dos direitos humanos, se preocupa com valores relacionados com a manutenção da saúde e a qualidade de vida das pessoas, o que implica deveres e obrigações individuais e institucionais (FORTES;ZOBOLI, 2008). Nesse contexto, Schramm e Kottow (2001) definem a bioética da proteção como "uma ética da responsabilidade social, em que se deve basear o Estado para assumir suas obrigações sanitárias para com as populações humanas, consideradas em seus contextos reais" (PONTES; SCHRAMM, 2004, p. 1.321).Para proteger a coletividade, muitas vezes as ações de saúde pública restringem liberdades e direitos individuais, como é o caso da fluoretação das águas para o consumo humano. Não obstante essa medida ter reconhecida eficácia para prevenir a cárie dentária (HOROWITZ, 1996), ela pode provocar fluorose dentária, e vem sendo objeto de intensas discussões éticas (MENDOZA, 2007;KALAMATIANOS;NARVAI, 2006). O princípio utilitarista afirma que as ações são eticamente corretas quando tendem a promover a maior soma de prazer a todos aqueles cujos interesses estão em jogo. Tem como paradigma: o alcance do "maior bem-estar para o maior número possível de pessoas ou para a maximização do seu bem-estar." Nessa visão utilitarista, a saúde pública, que não dispõe tecnicamente de meios simplificados e práticos para separar água com flúor e água sem flúor, impõe a primeira a todos, em prol da coletividade, ponderando os benefícios para muitos e os riscos de danos para alguns (FORTES; ZOBOLI, 2008).As medidas de vigilância sanitária também seguem esse princípio, ajustando os interesses da coletividade em nome da supremacia do interesse público sobre o individual, priorizando os princípios da beneficência e da não maleficência sobre outros princípios éticos, como o da autonomia individual (FORTES;ZOBOLI, 2008). Coggon e Cooper (1999) enfatizam, entretanto, que como os mais beneficiados com a fluoretação da água nem sempre são os mais necessitados (os