RESUMO:As estratégias do poder metamorfosearam-se intensamente ao longo dos últimos séculos, da soberania às disciplinas, até a expansão da biopolítica. Em todos os casos, o poder organizar-se-ia em torno de uma economia do corpo, que partiria do direito de gerar a morte, central na monarquia absoluta, em direção a estratagemas cada vez mais sutis e sofisticados que aperfeiçoariam o poder de gerir a vida. Aos poucos, o poder torna-se menos fundamentado em práticas violentas, coercitivas e repressivas para se difundir por meio de práticas produtivas, que se apoiam na autonomia do indivíduo. Em outras palavras, o poder passa a se desenvolver e agir em torno da produção de subjetividade e a imagem exercerá um papel crucial nessa produção. O objetivo do presente artigo é apresentar esse percurso do poder, que vai do suplício à norma e da norma à autonomia, para refletir sobre as estratégias do poder -biopolíticas -no âmbito das imagens e dos vídeos produzidos na mídia, especialmente, na Internet.
PALAVRAS-CHAVE:Biopolítica. Subjetividade. Visibilidade.
ABSTRACT:The strategies of power metamorphosed intensely over the last centuries, from sovereignty to disciplines, until the expansion of biopolitics. In all cases, power would organize around an economy of the body, which departed from the right to generate death, central to absolute monarchy, toward increasingly subtle and sophisticated stratagems that would improve the power to govern life. Gradually, power becomes less grounded in violent, coercive and repressive practices to diffuse through productive practices that rely on individual autonomy. In other words, power starts to develop and act around the production of subjectivity and image will play a crucial role in this production. The purpose of this article is to present this path of power, ranging from torture to norm, and from norm to autonomy, to reflect on the strategies of power -biopolitics -in images and videos produced in the media, especially the Internet.
KEYWORDS:Biopolitics. Subjectivity. Visibility.
DO PODER SOBERANO À BIOPOLÍTICAO poder político da sociedade medieval ao século XVII foi marcado pela mortesuplício, prática de um sistema punitivo centrado no poder do soberano, que permitia ao rei o direito de vida e de morte (FOUCAULT, 2009). Esse direito, contudo, não lhe era concedido em sua forma suprema, como o era para o pai de família da sociedade romana, que possuía o direito de descartar a vida de seus filhos e de seus escravos (patria protestas). O privilégio concedido ao monarca, por sua vez, era condicionado à ameaça de sua existência e, portanto, uma resposta a uma ação a priori. De forma indireta, poderia expor a vida de seus súditos ao convocá-los para a defesa do Estado ou, de forma direta, poderia retirar-lhes a vida, caso sua lei fosse infringida (FOUCAULT, 1988, p. 147). Neste caso, a infração cometida, em qualquer crime, criaria um impasse entre o infrator e o príncipe, um crimen majestatis, que atacaria diretamente a pessoa do príncipe. É diante dessa afronta que o soberano adqui...