Com saudades de Lygia Sigaud, que estimulou a redação deste artigo e contribuiu com inúmeras críticas e sugestões Nos anos 1960, o próprio sentido do termo antropologia, bem como o do ofício de antropólogo, sofreu uma transformação bastante profunda. Desde ao menos o final do século XIX, este saber era praticado principalmente por antigos estudantes da Faculdade de Medicina, nos museus de histó-ria natural. O departamento dedicado à antropologia inscrevia-se numa totalidade composta por divisões consagradas à geologia, à botânica e à zoologia.1 A história da humanidade era percebida como um capítulo da história do planeta e do conjunto dos seres viventes. No seio desses museus, todos os especialistas recrutados para seguir carreiras científi-cas tinham direito ao título de naturalistas, portando o avental branco -como os médicos nos hospitais -que os distinguia dos simples mortais. Aqueles que pertenciam à divisão da antropologia eram iniciados em questionamentos, conceitos e métodos de trabalho próprios a quatro domínios do saber: a antropologia física, a arqueologia, a linguística e a antropologia cultural.Cada domínio dava origem a um setor da divisão, favorecendo a especialização, mas todos os praticantes coletavam seus materiais por ocasião das expedições, que podiam incluir naturalistas das outras divisões do museu (geólogos e geógrafos, botânicos, zoólogos). Graças às expedições, os naturalistas constituíam coleções, fonte de suas publicações científicas, mas também de exposições abrigadas no museu para a difusão do conhecimento. O paradigma evolucionista, a princípio enraizado nas teorias de Darwin so-