ResumoEste artigo procura estudar o modo como as novas formas de interação e de envolvimento colocadas à disposição pelas tecnologias online interativas e participativas poderão ajudar a incentivar o empoderamento das práticas cívicas. Este trabalho enforma uma reflexão teórica sobre as potenciais áreas de interseção entre as audiências, enquanto "persona ficta" (Dayan, 2005) que emerge no papel de encenar a atenção face a uma performance externa, e o público, considerado enquanto entidade coletiva que chama a atenção externa, e que inclui uma orientação fundamental relativamente à ação partilhada e consensual. Defendemos que, para analisar a co-presença e a potencial sobreposição entre estas duas coletividades, é necessário adotar os conceitos de "mediação" (Silverstone, 1999) e de "culturas cívicas" (Dahlgren, 2009). O artigo desenvolve esta hipótese através da análise empírica de um estudo de caso focado em Beppegrillo.it, um weblog italiano que funciona como uma plataforma de comunicação para o desenvolvimento de um movimento cívico e político.
Palavras-chaveEsfera pública; internet; cidadania; Beppe Grillo
IntroduçãoA noção de esfera pública, tal como foi formulada por Habermas ao longo da sua extensa carreira intelectual (1962; 1981), propõe uma das mais conhecidas orientações para julgar a qualidade das ligações entre os atos de cidadania e as práticas da comunicação. No modelo da democracia deliberativa proposto pelo filósofo alemão, a comunicação é, não uma âncora da política institucional, mas antes a força vital da democracia, na medida em que a qualidade dos processos de decisão se encontra estritamente dependente da qualidade das discussões públicas através das quais se alcança resoluções coletivas. O ideal da esfera pública realiza-se integralmente sempre que os diálogos entre os cidadãos assumem uma forma de comunicação em particular que é verdadeira, sincera, isenta de poder e adequada a todos os participantes, independentemente do seu estatuto. Numa posição oposta ao rígido padrão normativo do discurso público racional e processual, encontramos o "modelo da esfera pública culturalmente orientado" (Herbert, 2005: 106), para o qual a situação ideal de fala de Habermas é, não só um painel de fumo que esconde formas de dominar, mas também um perigoso «cordão sanitário que impede a articulação pública de aspetos da identidade coletiva e visões da boa vida» (Benhabib, 1996: 7). Os modelos da esfera pública orientados culturalmente (Benhabib, 1992;Fraser, 1992) realçam a impossibilidade de eliminar as desigualdades de poder no discurso público e de agrupar as pertenças culturais e as diferenças de estatuto no