O artigo objetiva analisar certas formas de violência emergentes no con-texto dos projetos da chamada Economia Verde na Amazônia. Moradores da floresta denunciam que estes projetos, ao comprometerem sua autono-mia e seus modos de vida, exercem uma nova modalidade de violência “indireta”, que se soma à violência “direta”, à qual eles já estavam expos-tos anteriormente. A fim de compreender melhor esta nova modalidade de violência, dois conceitos em particular são aplicados: o de violência extrema, elaborado por Etienne Balibar, e o do Real do Capital, proposto por Slavoj Žižek, ambos inspirados pela topologia lacaniana do sujeito. Em um primeiro passo, o texto evidencia que as duas formas de violência supracitadas correspondem àquelas descritas por Balibar como ultra-sub-jetiva e ultra-objetiva e cuja interligação cíclica ele ilustra por meio da fita de Möbius. O segundo passo consiste em analisar a escalação de tais ciclos de violência através daquilo que Žižek descreve como irrupções traumáticas do Real do Capital e os esforços da ideologia neoliberal em reestabelecer a ordem simbólica capitalista. O artigo conclui que o pró-prio colapso climático e ecológico que vivenciamos hoje pode, em última consequência, ser entendido como incursão do Real do Capital. Assim, uma postura anti-violenta, que poderia interromper ou mitigar as dinâmi-cas da violência extrema, e, com isso, possibilitar alianças para proteger a floresta amazônica e seus habitantes tradicionais, exigiria uma melhor forma de lidar com a tendência paranoica inerente a nossa estrutura sub-jetiva e social, como apontada por Lacan.