Dimensões psíquicas do emagrecimento: por uma compreensão psicanalítica da compulsão alimentar

Abstract

Com este artigo propomos uma pesquisa teórico-clínica com o objetivo de apresentar um entendimento psicanalítico da compulsão alimentar. Para tanto, apresentamos uma revisão crítica da literatura articulada com vinhetas de atendimentos e depoimentos públicos de pacientes. Concluiremos sublinhando o potencial de uma abordagem psicanalítica da compulsão alimentar em destacar a existência de riscos de desorganização psíquica de alguns pacientes submetidos a dietas de alta restrição calórica e seu potencial para lidar com os ciclos viciosos de perda e posterior ganho de peso.

Inhibitory control and ability to maintain response in obesity and binge eating disorder

“…Several authors have reported that the EFs of individuals with BED, seem to be weak [5,8,[29][30][31][32][33][34].…”

Psicanálise no tratamento multidisciplinar e cirúrgico de obesidade severa

“…Ou seja, ao invés dos rituais alimentares serem determinados pelos costumes sociais e pelas tradições, o ato de comer passou a ser um ato solitário, realizado às pressas no ambiente de trabalho, mas podendo também acontecer a qualquer momento do dia e muitas vezes na frente da televisão ou durante o manejo dos smartphones. No que se refere à constituição sociocultural da obesidade, além do aumento da oferta de alimentos com alto índice calórico, como os lanches oferecidos pelos fast foods e equivalentes, observa-se também o aumento de trabalhos sedentários, da urbanização e da dependência de veículos motorizados para a locomoção (Farah & Castanho, 2018). Estudos claramente revelam o impacto de tendências culturais atuais na constituição do ganho de peso dos membros de uma família: aquelas que têm refrigerantes sempre à disposição e aquelas cujos adultos relatam não ter tempo para sair com seus filhos e preparar um alimento mais saudável são consideravelmente mais vulneráveis a se tornarem obesas (Boere-Boonekamp et al 2008).…”

“…Para Farah & Castanho (2018) se o corpo da representação foi o que se destacou no início da obra freudiana, a psicanálise contemporânea privilegia as manifestações somáticas, cuja via de adoecimento se dá pela via da ação, não respondendo, portanto, à lógica do recalcamento. O modelo freudiano original das neuroses atuais, contudo, continua sendo útil para se pensar na atualidade a problemática da impulsividade e da compulsão alimentar, em que o funcionamento habitual do aparelho psíquico parece nocauteado pelo aspecto quantitativo da excitação.…”

“…Há poucos dados sobre os efeitos de longo prazo dos fármacos empregados, sejam eles antidepressivos, anticonvulsivantes ou inibidores de apetite. As intervenções psicológicas mais estudadas são as terapias cognitivo-comportamentais (TCC) (Farah & Castanho, 2018). Revisão integrativa recente identificou a escassez de trabalhos psicanalíticos que abordam os temas de obesidade e/ou cirurgia bariátrica (Farah & Castanho, 2018;Catharin et al, 2020).…”

“…Essa preocupação está de acordo com a posição de Catharin e colaboradores (2020) que colocam a polifonia de conceitos de diferentes autores (Bion, Winnicott, Green, Freud e Lacan) como um fator que atrapalha a compreensão daqueles que não são psicanalistas. Essa dificuldade na comunicação das contribuições da psicanálise, no tratamento de pacientes que sofrem de obesidade severa, pode incorrer, inclusive, no risco de se obter um menor nível de evidências se compararmos com os resultados e discussões de outras pesquisas não psicanalíticas em Psicologia (Farah & Castanho, 2018;Catharin et al 2020). Para Fender e Moretto (2020), outro risco que se corre na comunicação é o de torná-la simplista e, ao invés de valorizar o saber psicanalítico na relação com seus pares, o enunciador pode realizar um desserviço.…”