Este trabalho tem como objetivo discutir o conceito de inteligibilidade da fala em segunda língua, a partir de uma análise da produção e percepção de falantes nativas e não nativas de Inglês. Tendo em vista que vivemos em um mundo globalizado em que a maioria dos falantes de Inglês não é nativa, trazendo cada dia mais características de sua língua materna para a segunda língua - e contribuindo para uma variação dialetal bastante diversificada -, o Inglês passa a ser definido pela expressão latina English as Lingua Franca (ELF) ou Inglês como Língua Franca (JENKINS, 2000, 2002, 2008, 2012; HULMBAUER; BOHRINGER; SEIDLHOFER, 2008; BECKER; KLUGE, 2014; 2015), que caracteriza o uso dessa língua por falantes de diferentes línguas maternas de forma mutuamente inteligível, sem comprometer a comunicação. O enfoque das análises feitas para discutir o construto de inteligibilidade foi determinado em pares vocálicos contrastivos do Inglês, uma vez que costumam apresentar dificuldades de percepção e produção por falantes de Inglês como L2, dado que o sistema vocálico é bastante distinto de uma língua para a outra, sendo uma característica marcante da produção de um falante de uma determinada língua. A dissertação se concentrou em dois tipos de análise: 1) uma análise acústica das vogais contrastivas do Inglês produzidas por uma falante nativa de Inglês Americano e três falantes brasileiras de Inglês como L2, e 2) uma análise da percepção das falantes em relação à sua própria produção e à produção das demais falantes através da aplicação de um teste perceptual. Em relação à análise acústica da produção das falantes, a observação dos dados coletados e estatisticamente tratados mostraram que há um processo de transferência entre a L1 Português Brasileiro e a L2 Inglês no que diz respeito à duração das vogais do Inglês Americano. Além disso, a altura vocálica é um parâmetro que também traz problemas para a diferenciação dos contrastes entre os pares vocálicos analisados na produção do Inglês como segunda língua. Já em relação à análise dos dados da percepção das falantes, também tratados estatisticamente neste estudo, os resultados mostraram que 1) embora tenha tido diferenças estatísticas significativas nas taxas de acerto e erro entre as ouvintes, não houve diferença no tempo de resposta; 2) uma das falantes de Inglês como L2 apresentou menos erros que a falante nativa nos testes de percepção; e 3) alguns estímulos produzidos por uma falante de Inglês como L2 tiveram mais acertos nos teste de percepção do que os produzidos pela falante nativa. Assim, os resultados das análises nos permitiram concluir que a fala não nativa pode ser tão inteligível quanto a fala nativa.