Deprivação e a tendência antissocial no adolescente face ao divórcio parental

Abstract

Resumo. Este estudo buscou identifi car indicadores de deprivação em adolescentes que vivenciaram o divórcio parental nos últimos dois anos de suas vidas e apresentavam sinais de tendência antissocial em seu comportamento. De acordo com a literatura revisada, desajustes no comportamento se manifestam quando houve algum tipo de ruptura na continuidade dos cuidados exercidos pelo ambiente, ocasionando o estado de deprivação. Numa abordagem qualitativa, utilizou-se o delineamento de Estudos de Casos Múltiplos, tendo sido avaliados três adolescentes, de 12, 13 e 15 anos de idade, assim como seus pais e mães, com base em entrevistas semiestruturadas e testes projetivos. Os resultados sugerem uma associação entre os sintomas desses adolescentes e as rupturas e descontinuidades dos cuidados parentais. Foram detectadas não só possíveis vivências de deprivação no contexto do divórcio, mas também na primeira infância desses adolescentes. Palavras-chave: comportamento antissocial, adolescente, divórcio.Abstract. The aim of this study was to identify deprivation indicators in adolescents who experienced parental divorce in the last two years of their lives and showed signs of antisocial behavior. According to the literature, behavior problems are manifested when there is some kind of break in the continuity of parental care, leading to a deprivation state. A qualitative approach was adopted, based on Multiple Case Studies design. Three teenagers, aged 12, 13 and 15 years old were evaluated, as well as their parents, based on semi-structured interviews and projective tests. The results suggested an association between adolescents' symptoms and parental care breaks and discontinuities. Possible experiences of deprivation were detected, not only in the context of divorce, but also in early childhood.

Adolescência em Conflito com a Lei: A Intensidade da História de Vida em Ato

“…Assim, o autor afirma que, a partir da destituição de algum aspecto essencial da vida da criança, ela pode vir a manifestar comportamentos antissociais os quais podem corresponder tanto à normalidade, quanto serem indicativos do surgimento do padecimento delinquente. Hack (2008) disserta sobre a distinção proposta por Winnicott entre privação e deprivação. Na condição de deprivação, a criança teve alguma experiência positiva com o(s) cuidador(es) que foi perdida, já na privação a criança nunca beneficiou-se dessa vivência (Hack, 2008).…”

“…Hack (2008) disserta sobre a distinção proposta por Winnicott entre privação e deprivação. Na condição de deprivação, a criança teve alguma experiência positiva com o(s) cuidador(es) que foi perdida, já na privação a criança nunca beneficiou-se dessa vivência (Hack, 2008). Salientase que, de acordo com Winnicott (1956Winnicott ( /2000, a deprivação instaura-se no momento em que o grau de maturidade do ego permite a percepção de que a falha foi externa e não interna, e que é justamente essa percepção que acarreta o prejuízo na personalidade e a busca da cura numa nova provisão ambiental.…”

A experiência parental e o desenvolvimento do >i<Self>/i< de meninas com problemas de comportamento

“…De acordo com a literatura científica, o surgimento e a manutenção do comportamento antissocial infantil se relaciona de maneira significativa com o ambiente familiar em que as crianças se desenvolvem (Lavigne et al, 2015;Hack & Ramires, 2014;Dunsmore, Booker & Ollendick, 2013;Molen et al, 2011;Wellausen & Bandeira, 2010, Tentracosta & Shaw, 2008.…”

“…Essas famílias possuíam um histórico de descontinuidade dos cuidados parentais para com os filhos, e estes, em resposta, apresentavam desde a época préescolar, medo, agressividade em casa e comportamentos desadaptativos na escola. Esses resultados sugerem que a qualidade da parentalidade interfere nos sentimentos de solidão e desamparo dos filhos, facilitando o desenvolvimento e a manutenção de desajustes no comportamento de crianças e adolescentes (Hack & Ramires, 2014).…”

“…Apesar de haver uma quantidade razoável de estudos científicos sobre tendência antissocial (Gonçalves-dos- Santos, 2016;Lavigne et al, 2015;Hack & Ramires, 2014;Dunsmore, Booker & Ollendick, 2013;Lacourse, 2012;Herrenkohl et al, 2010;Cruzeiro et al, 2008), a maioria delas dirige-se principalmente ao sexo masculino, dada a maior prevalência dessa condição nessa população (APA, 2014;Lacourse, 2012), sendo raros os estudos referentes a meninas. Dessa forma, o presente trabalho visa contribuir para suprir essa lacuna, buscando compreender como se processa o desenvolvimento do Self de meninas que apresentam tendência antissocial a partir da experiência de seus pais e mães, que serão os participantes da pesquisa.…”