DE CAMELÔS A LOJISTAS: a transição do mercado de rua para um shopping em Porto Alegre

Abstract

Este artigo parte das tensões envolvidas no processo de remoção do mercado de rua do centro de Porto Alegre/RS e sua realocação para um shopping popular, construído através de uma Parceira Público-Privada (PPP). Privilegia-se a abordagem etnográfica, baseada numa inserção de campo de mais de três anos, que permitiu captar o processo em perspectiva diacrônica. A transição das ruas para o camelódromo foi acompanhada de perto pela empresa construtora, doravante responsável pela sua administração, que exigiu uma mudança na sensibilidade comercial, a partir de uma política de pedagogização, visando forjar novos perfis de comerciantes, algo indispensável ao sucesso econômico do empreendimento. Como consequência, novas modalidades de conflitos emergem diariamente dessa estratégia, pois, nem todos os camelôs se reconverteram no protótipo de lojista idealizado pela PPP. As tensões em torno desse processo permitem reconstituir os nexos entre economia e política, micro e macro, agentes e instituições que configuram o social.

O shopping popular e a nova configuração urbana do Centro de Abastecimento da cidade de Feira de Santana/BA

“…Incialmente realizou-se um levantamento bibliográfico a respeito dos temas inerentes a esta pesquisa, como Espaço Urbano, Espaço Geográfico, Reforma Urbana, Shopping Popular. Destacam-se os principais autores: Milton Santos (2006;2008); Roberto Lobato Corrêa (2003); Moisés Kopper (2015); dentre outros. Paralelamente a pesquisa bibliográfica, foi realizada também levantamentos de dados em sites e bancos de dados oficiais do Governo Federal, do Governo do Estado da Bahia, da Prefeitura Municipal de Feira de Santana/BA (PMFS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e do Sistema Eletrônico de Informações da Bahia (SEI/BA).…”

Technologies and subjects of participation: the political mobilization of street vendors in Porto Alegre, Brazil

“…Esse processo de transição envolveu o deslocamento de aproximadamente 800 bancas instaladas nas ruas do centro histórico de Porto Alegre para um espaço fechado, inicialmente designado como Centro Popular de Compras, depois rebatizado de Shopping do Porto, e popularmente [continua] promovida pela Prefeitura de Porto Alegre -que cedeu um terreno no centro da cidade -em parceria com uma empresa privada encarregada da construção da obra e de posse do direito de exploração comercial do shopping -inclusive mediante cobrança de aluguel dos camelôs -por 25 anos. Como tecnologia de intervenção conectada a um projeto político de reurbanização, higienização e gentrificação das ruas, o Shopping do Porto/Camelódromo visava não apenas remover populações consideradas indesejadas de espaços públicos com alto valor de mercado, mas também ressocializá-las em espaços pedagógicos onde poderiam ser convertidos em outra classe de sujeitos -isto é, bons pagadores de aluguel e empreendedores sociais disciplinados (Kopper 2012(Kopper , 2015. Interpelados pela propaganda do "novo" espaço -meio estatal, meio privado, pois engendrado pela parceria público-privada (PPP) -, os camelôs aderiram, de início, entusiasticamente à proposta.…”

Esforços de (I)Legibilidade: práticas de coprodução das margens e do Estado a partir do camelódromo porto-alegrense

“…A partir de etnografia que contou com observação participante, entrevistas e conversas informais 11 , realizada junto a comerciantes e público do e no Pop Center, assim como junto a representantes da SMIC (Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio) e da Receita Federal, foi possível perceber que o projeto do camelódromo é um espaço de oportunidades e criatividades que se apresenta mais bem compreendido quando o olhar se direciona para além dos limites das regulações que o envolvem. Assim como o mercado transnacional de fronteira de Ciudad del Este demonstrado por Rabossi (2004) 12 , o atual camelódromo de Porto Alegre sugere o encontro de limites que "se atravessam e se questionam, se levantam e reproduzem" (RABOSSI, 2004) a partir de negociações e manipulações de identidades e práticas.…”

“…Contudo, alterei no corpo do texto seus verdadeiros nomes, no intuito de evitar superexposições. As entrevistas gravadas foram igualmente realizadas com a ciência dos pesquisados 12. Fernando Rabossi (2004) apresenta em sua tese uma análise sobre o comércio de Ciudad del Este destacando as práticas de venda na rua, a multiplicidade de origens, línguas e moedas, assim como os processos sociais, políticos e econômicos que fizeram de tal mercado transnacional um espaço de oportunidades e de inter-relações que se estrutura a partir de diferenças.…”