Este estudo buscou compreender as dimensões da vulnerabilidade à violência interpessoal contra mulheres vivendo com HIV/Aids, atendidas em serviços de referência para pessoas soropositivas da Bahia. A investigação foi orientada pela abordagem qualitativa, a qual se revelou fundamental para a compreensão do objeto de estudo, centrada no paradigma interpretativo, hermenêutico. As técnicas de coleta de dados foram a observação, registrada em um diário de campo, a análise documental e a entrevista semiestruturada gravada eletronicamente e transcrita na íntegra. Foram entrevistadas 32 mulheres que viviam com HIV/Aids e estavam sendo atendidas em dois serviços de referência dos municípios de Salvador e Santo Antônio de Jesus. A coleta de dados foi realizada no período de dezembro/2008 a setembro/2009. O corpus do estudo foi organizado e tratado com o auxílio da técnica de análise de conteúdo e interpretado com o uso de referências que abordavam a temática. A partir da análise do conteúdo das entrevistas emergiram três sub-temas: (Des)cobrindo a condição sorológica; práticas sexuais e reprodutivas de mulheres antes e após a soropositividade e; vulnerabilidade à violência interpessoal na dinâmica das relações sociais vivenciadas por mulheres. Os resultados revelaram que a história de vida das mulheres soropositivas é dividida, por uma linha imaginária, em um momento antes e outro depois do diagnóstico. As características sociodemográficas e as relações desiguais de gênero que as mulheres mantinham com seus parceiros afetivo-sexuais foram identificadas como condições que interferiram na vulnerabilidade delas à infecção. As agressões fizeram parte do cotidiano das mulheres e puderam ser consideradas como uma causa e uma consequência da infecção pelo HIV/Aids, contudo nem sempre as violências sofridas foram percebidas como tal pelas mulheres, que estavam envolvidas em um contexto relacional afetivo-sexual. Após o diagnóstico, além da violência física, psicológica, sexual e verbal, as mulheres também vivenciaram medos, culpas, estigmas, autoagressões e rupturas nos seus relacionamentos. A sorologia interferiu na maneira como as mulheres lidavam com a sexualidade, pois, após a infecção, algumas apresentaram diminuição da libido e recusaram-se a manter práticas sexuais. Tais condutas contribuíram para a ocorrência de violência entre os parceiros afetivo-sexuais. Nesse contexto, o empoderamento das mulheres é fundamental para que elas interrompam os ciclos de violência e construam outro panorama social, no qual a violência e as desigualdades cedem o lugar à paz e à cidadania plena. Além disso, para a melhoria da assistência a saúde das mulheres vivendo com HIV/Aids, é preponderante ouvi-las, para que, de acordo com suas necessidades, mudanças possam ser implementadas na reorganização das práticas de saúde.