Construção Da Identidade Profissional Em Um Ambiente Terceirizado

Abstract

Este artigo tem por objetivo compreender como as faxineiras terceirizadas de uma universidade federal constroem sua identidade profissional, num contexto de diferenciações e discriminação. Esses indivíduos convivem com a “invisibilidade social” e a vulneralidade que podem marcar a construção de sua identidade profissional. Adotou-se uma metodologia interpretativista com observação participante de base etnográfica e entrevistas semiestruturadas, analisadas pela Análise do Discurso de corrente francesa. As entrevistadas constroem suas identidades profissionais marcadas pelo anseio de se fazer parte do quadro de funcionários efetivos, pela instabilidade de seu trabalho, reproduzindo as rotinas dos pais, vivenciando os preconceitos e a invisibilidade pública no trabalho e na família.

Career, Class, and Social Reproduction in the Life Stories of Outsourced Cleaners

“…The professional context reflected experiences characterized by ambiguities typical of this occupational group (Lara et al, 2020); interpersonal relationships emerged both as a source of pleasure and as the occasion for experiences permeated by intrigues and psychological pain (Diogo & Maheirie, 2007). The ambiguity inherent in the professional identity of respondents -i.e., workers in the cleaning sector -was reflected in the alternating significance they gave to their work context, sometimes as a 'place' or a 'nonplace,' sometimes as a source of symbolic belonging or a mere physical environment (Teixeira et al, 2015).…”

“…Ambiguities also characterized their relationship with clients: some experiences reported by the respondents denote a certain level of interpersonal recognition, while others reveal recurrent episodes of social humiliation, defined as a form of "suffering long endured and chronicled by people of the poorer classes … that, in the Brazilian case and several generations ago, was sparked by the spoliation and servitude that fell heavily on natives and Africans, and later on low-wage immigrants" (Gonçalves Filho, 2004, p. 22). Ambiguity also emerged from the participants' representation of the cleaning activity; although some of them claimed to be proud and appreciative of what they do, some reports referred to the negative social value attributed to this activity, expressed in these women's low self-esteem (Diogo & Maheirie, 2007;Lara et al, 2020) and the experience defined as a form of social invisibility (Gonçalves Filho, 2004). Like the invisible men portrayed by Costa (2004) in a study with garbage collectors in a university environment, the respondents revealed themselves, in some circumstances, as invisible women, victims of a perverse mode of sociability.…”

Burocracia e Identidade Profissional de Terceirizados

“…Todas essas particularidades podem interferir na visão de mundo dos indivíduos que atuam como funcionários terceirizados, impactando em suas identidades. A discriminação, além de proporcionar uma identidade de exclusão do funcionário terceirizado frente à organização na qual atua (Brito et al, 2012;Dubar, 2005), faz com que eles se sintam invisíveis em suas atuações profissionais (LARA et al, 2020).…”

“…Diante da seleção lexical "dói", nota-se a mágoa da terceirizada por não ter seu trabalho elogiado. A invisibilidade dos terceirizados foi percebida por Lara et al (2020), fazendo com que o enunciado vá ao encontro de seus achados.…”

“…A terceirização na administração pública, em especial nas universidades federais, mostrou-se prejudicial para os indivíduos terceirizados no que se refere, principalmente, aos seus aspectos identitários. Em estudos recentes foram destacados aspectos como salários baixos e atrasados (Barbati et al, 2016), falta de identificação com as organizações (Silva & Garcia, 2018), concessão de privilégios e apadrinhamentos (Camilo & Costa, 2019;Santos et al, 2019), invisibilidade dos funcionários (Lara et al, 2020), hierarquias informais junto aos efetivos, rotatividade (Camilo & Costa, 2019) e não investimento em qualificação e treinamento dos funcionários (Santos et al, 2019).…”