A concertação política do agronegócio, composta por grupos políticos contrários à democratização da terra visa desmantelar as conquistas obtidas na Constituição de 1988, como se assistiu tanto em medidas do Legislativo, quanto do Executivo, sobretudo a partir do Golpe de 2016, como também durante as gestões federais lideradas pelo Partido dos Trabalhadores. Este trabalho, ao usar o conceito de “recalque” para explicar como esta ofensiva foi possível, parte do ponto de vista de que a marginalização política da questão agrária brasileira é resultado do enquadramento de memória que se estabilizou a partir do Golpe de 64, que se associa com os efeitos concretos da “modernização conservadora” da agricultura por parte da ditadura empresarial-militar. Através de levantamento bibliográfico e trabalho de campo, foi possível verificar que várias iniciativas políticas implementadas pelos governos petistas, voltadas para as populações pobres do campo, esvaziaram e “silenciaram” seu conteúdo agrário, enquanto os atores mais poderosos dos governos de coalizão do PT contribuíram para a fragmentação dessas lutas, omitindo seus ganhos concretos e revelando a incompreensão da centralidade estrutural da questão agrária na gestão política das contradições sociais do Brasil.