Resumo: Este artigo aborda a pseudonímia e a heteronímia na obra do escritor Romain Gary (1914-1980), a fim de considerar a função psíquica desses fenômenos. Nascido em Vilna, na Lituânia, de origem judaica, Gary imigrou para a França na adolescência. Por duas vezes foi agraciado com o Prêmio Goncourt, uma delas por um livro publicado com o pseudônimo Émile Ajar, o que gerou um grande polêmica porque, tradicionalmente, o Goncourt só pode ser concedido uma única vez a um autor. Uma breve incursão na teoria literária será feita para considerar a noção de autoria e, em seguida, tendo em vista o suicídio do escritor, serão utilizadas algumas noções freudianas a fim de verificar a hipótese de que o autoextermínio de Gary coincidiu com os aspectos disfuncionais de um processo por meio do qual o escritor buscava simultaneamente a invenção de si mesmo, o reconhecimento e a anonimidade.