Cicatrizes do Contestado: a estatização da Southern Brazil Lumber and Colonization Company e o advento do Campo de Instrução Marechal Hermes.

Abstract

O objetivo deste artigo consiste em examinar os desdobramentos do processo de estatização da Southern Brazil Lumber and Colonization Company, culminando com a transformação de sua sede no Campo de Instrução Marechal Hermes. A abordagem considera o enfoque da História Social Inglesa – especialmente as noções sugeridas por Thompson – na perspectiva da reciprocidade entre a classe trabalhadora e as classes dominantes, além de suas relações com o Estado. Dentre os resultados do estudo, descreve-se: as mudanças na cultura organizacional da Lumber Incorporada após os militares assumirem o controle da administração; as aparentes irregularidades no processo de venda do acervo de bens da Lumber Incorporada; a suspeição acerca da atuação do então governador do estado de Santa Catarina, Irineu Bornhausen; a atuação com segundas intenções do empresário Alberto Dalcanale, que cedeu a área de terras da sede da Lumber Incorporada ao Ministério da Guerra; a agonia dos trabalhadores da Lumber Incorporada em longos períodos de atraso nos pagamentos de salários; o processo injusto de desapropriações de áreas de terras contíguas à Lumber Incorporada, para fins de composição do campo militar. Concluí-se que a presença da Lumber Company afetou decisivamente o curso dos eventos na região sob sua influência.

Industrial heritage of a lumber company in Santa Catarina state, Brazil: considerations about industrial archaeology and the history of material culture

“…The company's nationalization process was materialized by Decree n. 2436, from July 22, 1940; after it, the company was incorporated to the Patrimony of the Brazilian State and survived in limbo for some years, when the company was managed by the Brazilian Army. 4 The presence of these industrial enterprises remarkably marked the herein assessed region, mainly when it comes to observed environmental impacts. At that time, the Brazilian Southern highlands were composed of Mixed Ombrophilous Forests (MOF), of part of the Atlantic Forest biome and of the environment featured by the presence of Araucaria forests.…”

“…Differences in labor conditions and housing, between workmen in and outside the industrial complex, can be observed in descriptions of Três Barras company-town. 2 The industrial complex implemented by Lumber in Três Barras was, at the time, the biggest of all Latin America, and one of the most modern sawmills worldwide (Figure 3). It was mostly composed of machinery imported from the USA and Europe.…”

“…Therefore, "the stations were distributed not so far from each other, because the goal to colonize and the explore lumber would be made easier". 2 , 1 This railroad crossed the Brazilian Southern region at early 20 th century and its subsidiaries accounted for forest exploration and for the colonization of such a territory.…”

Turismo como estratégia para desenvolvimento territorial do Contestado: o caso exemplar do território Castilha-La Mancha

“…Nesse cenário multifacetado, concomitantemente ocorreu a inserção do capital estrangeiro, cujas práticas resultaram em injustiças, deflagradas por uma ferrovia recém construída e, principalmente, pela atuação da Southern Brazil Lumberand Colonization Company, madeireira e colonizadora norte-americana, em particular, a expulsão de milhares de posseiros dos vales dos rios Negro e Iguaçu (TOMPOROSKI, 2013).…”

questão de terras no Contestado

“…É evidente que há outras motivações de força, como a militarização das divisas entre Paraná e Santa Catarina, os abusos praticados pelos Coronéis e demais representantes do poder local, além dos impactos das novas práticas implantadas pela Brazil Railway e pela Lumber and Colonization Company, considerando também a tradição do profetismo popular dos monges e a construção do projeto com características milenares. Entre os autores que apontam os problemas agrários como relevantes para o levante sertanejo, podemos indicar os militares (CARVALHO, 1915), PEIXOTO (1918 e 1995), ASSUMPÇÃO (1917), SOARES (1931), os sociólogos VINHAS DE QUEIROZ (1966), MONTEIRO (1974) e a historiografia mais recente DIACON (1991), VALENTINI (1997), MACHADO (2004), CARVALHO (2002), RODRIGUES (2008), ESPIG (2012), TOMPOROSKI (2013) e MUCHALOVSKI (2018).…”