Resumo O objetivo deste artigo é dialogar com a provocação feita pelo antropólogo argentino Néstor Perlongher sobre o fazer antropológico, na qual o autor se questiona: "por que será que a antropologia, tão obcecada por discursar sobre o outro, não se anima a reconhecer o desejo do outro?”. Seguindo essa inspiração, desejamos apresentar pontos de consideração teórico-metodológicos que enfatizem uma análise do social a partir dos movimentos libidinais em sua macro e micropolítica, uma proposta de cartografia que comporia uma antropologia do desejo. Entendendo que o desejo está na base da criação de toda comunidade, laço de pertencimento ou relação social, ao longo do artigo exploramos vias para a interpretação de um desejo pela hierarquia, pela aniquilação do outro ou pelo mal - enfatizando a problemática racial - via processos de subjetivação e engajamentos libidinais presentes em práticas diversas de indivíduos, grupos e formas de governos. Finalizamos o artigo ponderando ao redor de importantes influências de Perlongher naquilo que na antropologia brasileira podemos chamar de Antropologia do prazer, a partir de pesquisas que têm se dedicado justamente a duas das principais temáticas do autor: sexualidade e drogas.