A noção de que o uso de drogas é um problema a ser excluído, operada por uma linha de enquadre da saúde pública, de antemão limita possibilidades de mudanças na atenção às pessoas que fazem uso de drogas, seu acesso efetivo aos serviços públicos de saúde. Diante desse quadro (visível), no limite dessas formas ou noções, o movimento de Redução de Danos opera como tensor, produzindo uma subtração criadora de diferenças de dinâmicas: linhas de cuidado que desafinam as relações constantes, a determinação atual de uma política pública de drogas um tanto quanto fantasmática e intimidadora, ou ainda, hipertrofiada e neurótica. Com isso, sabendo que nunca se está diante de uma tela em branco, a presente investigação pretende tornar possível outro fundo para se pensar uma política de drogas. Toma-se, nesse intuito, o procedimento de limpeza e traços do pintor Francis Bacon, que em si já sugere a mudança de um quadro, no caso, do afundamento da atual política de drogas à rearticulação de práticas de saúde junto às pessoas que fazem uso de drogas. Mas a questão é como essa mudança pode ser feita? Assim, ao lançar a mancha, o traço, o grito de O QUE PODE A REDUÇÃO DE DANOS?, lança-se à ação no território, ao encontro de uma zona comunicante com outros traços. O traço-linha que foge, portanto, subtrai-se de possibilidades de cuidado dadas a priori para, comungando com outros traços, expressar um cuidado possível. No limite, Pintou Limpeza, uma atividade básica, precisamente radical, micropolítica, colaborativa, que ao criar uma zona de trocas impulsiona uma produção de cuidado que tensiona a poética social produzida.