Avaliação das ações descentralizadas em saúdeA avaliação das ações decorrentes das políticas de saúde deve ser encarada como um dos seus componentes. Sem essa avaliação, não é possível saber se o esforço empreendido resultou no seu objetivo principal, a melhoria das condições de saúde da população. A avaliação das ações em saúde não é uma tarefa simples. À medida que elas se tornam mais complexas e contam com mais atores envolvidos, surgem novos desafios para uma adequada conclusão sobre os seus efeitos. É o caso do Brasil, onde se observa uma progressiva descentralização das ações em saúde, iniciada com a promulgação da Constituição de 1998.A Epidemiologia e Serviços de Saúde traz, nesta edição, dois artigos que utilizaram abordagens criativas para avaliar ações descentralizadas em saúde. O primeiro artigo refere-se a uma avaliação de impacto; e o segundo, a uma avaliação de processo. A título de recordação, as avaliações de impacto investigam mudanças na morbimortalidade -e/ou aspectos relacionados -, decorrentes das ações, e as avaliações de processo investigam oferta, qualidade, uso e cobertura; 1 avaliações de impacto são menos comuns no Brasil. 2 O trabalho intitulado "Brechas redutíveis de mortalidade em capitais brasileiras (1980)(1981)(1982)(1983)(1984)(1985)(1986)(1987)(1988)(1989)(1990)(1991)(1992)(1993)(1994)(1995)(1996)(1997)(1998)" utiliza a mortalidade por algumas causas evitáveis, como eventos sentinela, para avaliar efeitos de ações em saúde nas capitais do País. Como indicadoras dessa efetividade, foram utilizadas as brechas redutíveis de mortalidade (BRM), que constituem uma medida de risco atribuível entre expostos. 3 Os resultados mostraram declínios consistentes das BRM da mortalidade infantil por diarréia e das infecções respiratórias agudas, que refletem, possivelmente, o efeito das ações para o controle desses agravos, uma vez que as condições de vida foram consideradas na análise. Por outro lado, as BRM da mortalidade por tuberculose e por doença cerebrovascular aumentaram em algumas capitais, indicando problemas nas estratégias de controle. 4 O segundo artigo intitula-se "Programa Saúde da Família: a experiência de implantação em dois Municípios da Bahia". O trabalho foi desenvolvido em um Município que possuía o sistema municipal de saúde mais estruturado; e em outro, que apresentava um sistema local de saúde incipiente. Por meio de grupos focais, foram investigados aspectos relacionados à gestão/organização, perfil das práticas e cobertura do Programa Saúde da Família (PSF). De maneira geral, o Município com melhores indicadores epidemiológicos e assistenciais apresentou melhor performance; em ambos os Municípios, entretanto, dificuldades de articulação entre os diversos níveis do sistema, de financiamento e a precariedade das condições de vida foram identificadas como obstáculos ao desenvolvimento do PSF. 5 Esta edição também apresenta uma nota prévia, intitulada "Primeira injeção de drogas e hepatite C: achados preliminares", com resultados importantes para a orientação de ações pre...