resumoTem sido reconhecido como razoável assumir que, uma vez que pensemos nos objetos que estariam por trás do desenvolvimento formal das teorias físicas, a física quântica nos comprometeria com entidades que podem ser assumidas como absolutamente indistinguíveis e, de certa forma, como sendo desprovidos de individualidade. Neste artigo, discutiremos primeiramente, de modo breve e geral, a natureza desse compromisso, como ele pode ser compreendido em termos metafísicos, bem como sua relação com os sistemas de lógica utilizados para falar sobre os objetos com os quais supostamente nos comprometemos. Apresentamos então alguns dos principais aspectos da mecânica quântica ortodoxa, aos quais usualmente se recorre quando se deseja fornecer argumentos que possam sustentar uma ontologia de objetos com essas características, ou seja, de objetos indistinguíveis e sem individualidade. Por fim, exibimos um sistema de teoria de conjuntos, a teoria de quase conjuntos, que busca captar formalmente e de modo natural essas características e, assim, pode ser utilizada como lógica subjacente para fundamentar uma metafísica de não indivíduos.Palavras-chave • Mecânica quântica. Ontologia. Não individualidade. Indistinguibilidade. Quase conjuntos.
IntroduçãoÉ bem sabido que a física quântica é uma fonte constante de perplexidades filosóficas. O famoso gato de Schrödinger, a existência de estados de superposição, o colapso da função de onda, a dualidade onda-partícula, a complementaridade, a não localidade são alguns exemplos de conceitos e situações, via de regra, sem paralelo na física clás-sica (não detalharemos qualquer dessas situações aqui; ao leitor interessado, recomendamos os textos de Pessoa Junior, 2003, 2006. Ademais, deve-se esclarecer que, por física quântica, entenderemos aqui a mecânica quântica não relativista (por vezes dita mecânica quântica ortodoxa), cuja formulação mais difundida (pelo menos no conscientiae zudia, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 41-69, 2012 41