A presente investigação se insere no âmbito de trabalhos voltados à História da Ciência e ao Ensino de Ciências e de Biologia e objetiva explicitar algumas ideias biológicas presentes na primeira metade do século XX que estiveram associadas ao movimento eugênico, bem como, refletir sobre como essas ideias ressoaram no campo da literatura ficcional daquele momento histórico. Para tanto, por meio da análise historiográfica documental, investigamos dois importantes autores da época: Renato Ferraz Kehl (1889-1974) e Monteiro Lobato (1882-1948). Buscamos traçar algumas aproximações entre os discursos biológicos presentes no âmbito acadêmico com outras instâncias sociais, em específico, com a literatura, evidenciando assim relações que se estabelecem entre ciência e sociedade. Foram apontadas aproximações e/ou distanciamentos nos discursos dos autores em relação as seguintes temáticas: Questão racial; Determinismo Biológico e Visão da Ciência; Conflitos entre ambiente versus hereditariedade; Visão a respeito da mulher. Por fim, foi discutido como a análise do movimento eugênico e as obras desses autores podem contribuir para o entendimento da articulação entre ciência e pensamento literário de uma época. No campo educacional, concluiu-se que o estudo dessa temática pode auxiliar a entender que a ciência está imersa em valores políticos, sociais, econômicos, culturais e que os discursos científicos influenciam outras instâncias sociais. Destacou-se também que é importante ver a ciência com um olhar crítico, de modo a combater discursos que possam levar a discriminação e a exclusão social. Além disso, o estudo contribui com a reflexão a respeito de uma obra literária, contextualizando-a em relação ao período em que foi escrita.