RESUMO: O presente artigo apresenta dados de uma pesquisa que levantou as vivências de prazer e sofrimento de cinco componentes de uma banda de blues, e o trabalho como construtor de identidade por meio do discurso de profissionais: uma banda de blues com renome no mercado fonográfico da região Centro-Oeste do Brasil. O delineamento deste estudo privilegiou os preceitos "dejourianos" como perspectiva norteadora de prazer e sofrimento. Os dados coletados através de entrevistas foram tratados por meio da Análise Gráfica do Discurso de Lane (1985). Como resultados, emergiram categorias relacionadas à percepção que tinham sobre: as condições de trabalho, as relações de trabalho, organização de trabalho, as vivências de prazer e sofrimento no trabalho e as estratégias de enfrentamento. Como indicadores de prazer e sofrimento, foram citados: a dupla jornada de trabalho, o sentido do trabalho de criação vinculado á arte e o preconceito social que enfrentam pelo fato de ser artista e trabalhar à noite. PALAVRAS-CHAVE: Psicodinâmica do trabalho; música; banda e organização. ABSTRACT: This article presents the results of a research that was carried out with blues band musicians in the center-west region of Brazil. It seeks to learn about the suffering and pleasure experiences of the five components of this blues band, which is famous in the region. The delineation of this study had privileged the concepts developed by Dejours as a guideline, focusing on the pleasure and suffering experiences. Data had been collected by interview and had been treated by Lane's Graphic Analysis of Speech. The results indicate pleasure and suffering experiences as: double work journey, sense of work as a creative one and related to art, and social prejudice for being artists and working at night. Categories related to the musicians' perceptions had also emerged involving work conditions, work relations, organization, pleasure and suffering experiences and strategies of confrontation. KEYWORDS: Psychodynamics of work; music; band and organization. O trabalho, como um processo histórico e social, é determinado pelos modos de produção da sociedade. Os trabalhadores da arte se constituem em objeto de estudo claramente situado no espaço de interface dos fenôme-nos psíquicos e sociais, evidenciando-se que tal interface pode ser estudada a partir de várias dimensões. Para Enriquez (2006), quando uma pessoa se reco-nhece como sujeito psíquico é para aprender a se defender da fantasia da dominação total e se perceber como sendo um indivíduo clivado, submetido à perda, à falta, ao trabalho de luto e ao sofrimento, com dívidas a pagar para poder realizar, pelo menos em parte, o princípio do prazer. O sujeito psíquico é, assim, um ser que reconhece as suas contradições e os seus conflitos, sabendo que não é totalmente senhor de seus próprios desejos pelo fato de existir o inconsciente. No mundo do capital globalizado, os antigos valo-res foram redimensionados, e os aspectos econômicos se intensificam a cada dia, causando conseqüências ao nível coletivo:...