Oconhecimento acumulado nas últimas décadas com relação ao desenvolvimento e à fisiologia dos pulmões do recém-nascido permitiu uma maior compreensão dos mecanismos de lesão pulmonar causados pela ventilação mecânica e pelo uso do oxigênio. Isso resultou em um aperfeiçoamento das técnicas de ventilação não-invasiva, utilizando pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) (1) , assim como das técnicas de ventilação invasiva, empregando-se tanto a ventilação mecânica convencional como a ventilação de alta frequência (2) . Por outro lado, nesse período, não foi observado um aprimoramento significativo dos equipamentos e das técnicas de ventilação com balão autoinflável, que é utilizado com frequência nas salas de reanimação, nas unidades de terapia intensiva neonatal e pediátrica e no transporte dos pacientes pediátricos.Atualmente, a maioria dos pediatras utiliza o balão autoinflável de uma maneira similar à de 20 anos atrás, com concentrações de oxigênio próximas a 100%, sem o uso de pressão expiratória final positiva (PEEP) e com pressões inspiratórias e volumes-correntes muito elevados. Isso resulta em lesão pulmonar por vários mecanismos, incluindo a exposição a elevadas concentrações de oxigênio, o atelectrauma e o volutrauma (3) . Neste sentido, os resultados publicados por Zaconeta et al (4) nesta edição da Revista Paulista de Pediatria têm o mérito de acrescentar mais informação a este assunto produzida por um grupo com tradição em pesquisa nesta área (5,6) . Um dos pontos fortes do trabalho é o estudo de uma população pouco avaliada na literatura pediátrica: profissionais não-médicos que atuam na linha de frente das emergências ocorridas com crianças fora do ambiente hospitalar. Com a avaliação desses profissionais, foi demonstrado que, utilizando balão autoinflável, a ventilação foi realizada em 81% das vezes com pressões fora da faixa considerada adequada (20 a 40cmH 2 O) e em 52% das vezes com frequência respiratória abaixo da faixa preconizada (40 a 60 ciclos/minuto). Os resultados tornam clara a necessidade de reavaliar o treinamento destes profissionais.A importância do aprimoramento dos equipamentos e das técnicas utilizadas na ventilação manual fica mais evidente com a observação de que a eficiência da ventilação com balão autoinflável não é maior quando aplicado por pediatras experientes no atendimento à criança com insuficiência respiratória (5) . Os resultados deste estudo nos obrigam a repensar o conceito da ventilação manual com balão autoinflável à luz do conhecimento atual sobre a ventilação protetora no recém-nascido. É necessário que a comunidade pediátrica interaja com a indústria e com os órgãos reguladores federais visando ao desenvolvimento de equipamentos de ventilação manual adequados às necessidades do prematuro, como a obrigatoriedade do uso de válvula de PEEP, de mecanismos de redução da concentração de oxigênio e de limitação da pressão inspiratória a valores inferiores a 40cmH 2 O.
Referências bibliográficas