Ausência de raça e gênero no enfrentamento da pandemia no Brasil

Abstract

Esta nota discute a ausência dos quesitos cor/raça e gênero nos boletins epidemiológicos da Covid-19 e como essa omissão está articulada ao modo como se operacionaliza o racismo no Brasil. Coloca-se em evidência a apropriação da identidade racial e de gênero por alguns estados brasileiros que ganharam visibilidade midiática, como sendo solidários, ao iniciarem a campanha de vacinação com mulheres negras, grupo social mais vulnerável. É o jogo da dissimulação, em que se evidencia a raça/gênero na aparência, embora essas variáveis não sejam consideradas no enfrentamento da pandemia.

Avaliação do conhecimento sobre a COVID-19 entre estudantes de graduação do Instituto do Noroeste Fluminense de Educação Superior (INFES-UFF)

“…Um processo que normalmente leva anos para acontecer, a ciência conseguiu reduzir a um período de poucos meses . Um ano depois, no dia 17 de janeiro de 2021, Mônica Calazans (54 anos), enfermeira da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Instituto Emílio Ribas, localizado em São Paulo, foi a primeira brasileira a ser vacinada no território nacional, dando, assim, início à campanha de imunização, com a primeira dose da vacina CoronaVac, fabricada pela farmacêutica Sinovac (produzida no país pelo Instituto Butantan) (Lopes, 2021).…”

Covid-19 não é democrática: determinação social do processo saúde-doença numa análise de gênero-raça-classe-sexualidade

“…A COVID-19 não se apresenta mais frequentemente em grupos raciais específicos por nenhuma determinação genética preexistente, mas devido a condições de renda precária ou nula, moradias inadequadas, alimentação pobre em nutrientes, dificuldade de acesso às medidas sanitárias, água potável, serviços em saúde, educação, lazer, entre outras [28][29][30] . Quando enunciado: "é preciso que a população se proteja", é essencial que seja considerado quem são as pessoas que conseguem efetivamente se resguardar contra a disseminação do vírus.…”

“…No início da pandemia, os dados de casos de infecção pelo vírus e de mortes pela doença eram divulgados sem o quesito raça-cor. A ausência dessas informações resultou em uma carta assinada por 150 entidades representativas do Movimento Negro e das periferias do país, que foi enviada ao então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta 30 . A omissão desse quesito nos boletins epidemiológicos está articulada ao modo como se operacionaliza o racismo no Brasil, colocando a discussão da necropolítica V na arena do debate, tendo em vista a negação dos direitos básicos e fundamentais por omissão e obscurantismo do Estado.…”

Iniquidades persistentes: o negro e a pandemia de covid-19 na Amazônia paraense

“…Contudo, um estudo realizado por Santos et al ( 2020) revela que, assim como no Pará, no Rio Grande do Sul, as células vazias no item raça/cor representam 28%, já em Pernambuco chegam a 62,2%. Portanto, há um déficit significativo não apenas no preenchimento do item raça/cor, mas também um processamento insuficiente dessas estatísticas devido à precária coleta e manutenção dos bancos de dados (LOPES, 2021;SANTOS et al, 2020).…”