RESUMO Anaximandro possui destaque na história da filosofia, conforme o In De caelo de Tomás de Aquino, porque, à luz da racionalidade, ele descobriu os pontos limites do cosmo, na perspectiva do observador, a saber: as estrelas e a Terra, os dois itens mediante os quais o milésio inaugura a cosmologia filosófica e a cosmografia. Este estudo mostra que, baseado não somente no texto de Aristóteles, mas também noutras fontes doxográficas, nomeadamente no In De caelo de Simplício, Tomás reúne em seu texto teorias cosmológicas atribuídas a Anaximandro, como o geocentrismo, a finitude do cosmo, a infinitude e divindade do regente do todo e, refletindo sobre elas, o autor manifesta a grandiosidade do gênio daquele que é considerado como o sucessor de Tales de Mileto.Evaniel Brás dos Santos 44 milieu inaugurates philosophical cosmology and cosmography. This study shows that, based not only on the text of Aristotle, but also on other doxographic sources, notably in the In De caelo of Simplicius, Aquinas collects in his text cosmological theories attributed to Anaximander, such as geocentrism, finitude of the cosmos, infinity and deity of the regent of the whole and, reflecting upon them, the author manifests the grandeur of the genius of he who is regarded as the successor of Thales of Miletus.A discussão de Tomás de Aquino sobre a cosmologia e a cosmografia de Anaximandro, além de situar-se numa perspectiva histórico-filosófica, 1 pode ser estabelecida pelas referências diretas e indiretas ao filósofo grego. 2 1 É necessário observar, já no início deste estudo, que, a despeito de não se constituir como uma disciplina acadêmica nas universidades medievais, a história da filosofia possui certo destaque universitário, sobretudo nos séculos XII-XIII. Essa tese possui Gregorio Piaia como seu principal defensor. Conforme o autor, para compreender e reconhecer tal tese, é preciso primeiro eliminar os preconceitos provenientes do Renascimento e Iluminismo que negam a existência da história da filosofia entre os medievais (cf. Piaia, 1983; ver também: Piaia, 1986;Piaia, 2007). Segundo, embora exija um esforço árduo, é preciso estabelecer quanto aos medievais a "storia della storiografia filosofica" (Piaia, 1991, p. 466). A empreitada é levada a cabo ao se constatar que há um contínuo movimento de autores de matriz cristã preocupados com a história da filosofia. Entre outros, Piaia (1983, 1986, 2007) investiga Agostinho (De Civitate Dei, séc. IV-V), Isidoro de Sevilha (Etymologiae; De ecclesia et sectis; De philosophis gentium; séc. VI-VII), Beda, o Venerável (De temporum ratione, De sex huius saeculi aetatibus; séc. VII-VIII), Rabano Mauro (De universo, séc. IX), Honório de Autun (Liber de haeresibus; séc. XII), Otão de Freising (Chronicon sive historia de duabus civitatibus; séc. XII), Godofredo de Viterbo (Pantheon; séc. XII), Pseudo-Grosseteste (Summa philosophiae; séc. XIII), Vicente de Beauvais (Speculum historiale; Speculum doctrinale; Speculum naturale; Speculum maius [a maior enciclopédia da Idade Média, segundo Piaia]...