Resumo: O presente artigo visa apresentar a produção acadêmica sobre o tema raça e racismo elaborada no Instituto de Psicologia da USP (IPUSP). Para tanto, fizemos uma análise das teses e dissertações produzidas no IPUSP entre 1970 e 2012 e que utilizaram essas categorias para compreensão de fenômenos subjetivos, sociais e políticos. Dentre outros aspectos, constatamos que os trabalhos analisados se dividem principalmente em três grandes eixos, são eles: denúncia do racismo, modos de subjetivação do racismo e estratégias para superá-lo. No entanto, é possível considerar que são poucos os trabalhos que versam de forma sistemática acerca da desconstrução do racismo, bem como sobre metodologias e técnicas em que psicólogos poderiam contribuir para a luta antirracista na sociedade brasileira. Por assim dizer, ainda há uma lacuna no conhecimento de Psicologia e relações raciais que deveria ser aprofundado por psicólogos. Palavras-chave: racismo, relações raciais, pós-graduação, psicologia.
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IntroduçãoEstudos genéticos contemporâneos, tais como Pena (2008), provaram a não existência de uma demarcação biológica que diferenciaria os sujeitos em grupos raciais distintos. Ou seja, do ponto de vista genético, não existe raça. É por isso que, de maneira geral, esse tema não tem mais lastro entre os discursos científicos de cunho biológico. No entanto, a temática das relações e das desigualdades raciais ainda hoje tem sido objeto de diferentes estudos das ciên-cias humanas, já que a raça ainda é um importante componente nas estruturas sociais.No Brasil, raça é uma categoria que diferencia, hierarquiza e subjuga diferentes grupos marcados pelo fenótipo. A cor da pele, o formato dos lábios e do nariz, a textura e a forma do cabelo são alguns dos atributos físicos utilizados para diferenciar e hierarquizar os grupos raciais, alocados principalmente entre aqueles que compõem um grupo racial tido como branco e outro como negro. Em outras palavras, a despeito de não haver nenhum elemento genético que distinga potencialidades psíquicas, morais, culturais, intelectuais, entre brancos e negros, as relações sociais ainda são racializadas, sendo utilizadas as características físicas/biológicas como esteio para essa racialização e, portanto, para o racismo.Entendemos que o racismo é um dos efeitos da crença de que existem raças. Diz respeito a todo fenômeno baseado no conceito de raça/cor e que promova distinções, preferências, exclusões e restrições entre os sujeitos em qualquer domínio da vida (Brasil, 1969). Ou ainda como afirmam Poliakov, Delacampagne e Girard (1977), o racismo cria fantasmas, teorias e práticas discriminatórias, com o único objetivo de afirmar a superioridade de um grupo em relação a outro. Nesse sentido, é possível visualizar o racismo anterior mesmo ao conceito de raça na história, a que os autores chamam de "protoracismo", como o que ocorreu na Arábia pré-islâmica, fato demostrado por Lewis (1982) a partir da análise de textos apócrifos ao Alcorão.No presente artigo, a questão racial é abordada tal como foi p...